Tradicional ponto de manifestações em Porto Alegre, cruzamento da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros foi alçada a patrimônio cultural de Porto Alegre há exatos 20 anos. Conheça o espaço por meio de olhares de quem atravessa a Esquina Democrática diariamente.
Jaci dos Santos Espindola, 74 anos, adequou seu ritmo de trabalho ao passo acelerado de quem cruza a Esquina Democrática. É que se alguém entra na sua banca e não é atendido em segundos, dá meia volta e vai embora.
— Se demorar, perde o freguês — constata.
A velocidade da esquina é apenas uma das coisas com as quais já se adaptou — embora seja muito diferente do ritmo de Venâncio Aires, onde nasceu. Também se acostumou aos ambulantes, que, segundo ele, voltaram a tomar a Andradas neste ano, e à gritaria a que alguns recorrem para vender seu peixe.
Jaci se orgulha de nunca ter baixado as portas da banca durante um protesto: enquanto todas as lojas ao seu redor fechavam, sua banca permanecia aberta, conta. Comenta que a agência do Itaú, que fica na frente da sua banca, já foi atacada por manifestantes, mas suas revistas, jornais e refrigeradores permaneceram incólumes.
— Nunca aconteceu nada. E até gosto de protesto: faturo mais — revela.
Jaci calcula que trabalha no local há uns 20 anos. Desde a época em que uma banca de revistas tinha como carro-chefe as revistas. Hoje, vende mais café, água, refri: diz que se dependesse das publicações, morreria de fome. Ele é um adorador da Esquina Democrática. Afinal, deve a ela uma das maiores conquistas da sua vida:
— Antes, trabalhava de empregado. Hoje, sou dono.