A relação já tumultuada entre a prefeitura e os servidores municipais ganhou um novo capítulo: na sexta-feira, Nelson Marchezan encaminhou à Câmara de Vereadores três projetos que preveem o fim de benefícios como a licença-prêmio e colocam dentro da lei o parcelamento de salários — que já ocorre desde junho.
Diretor-geral do Sindicato dos Municipários (Simpa), Alberto Terres critica enfaticamente as propostas, que, segundo ele, "alteram as conquistas dos trabalhadores".
— Essa situação ocorre enquanto a Câmara está em recesso, o que demonstra a forma autoritária e antidemocrática do governo, que não dialoga com ninguém, nem com os municipários, nem com os vereadores — afirma. — Estamos muito indignados.
Terres relata que os municipários já protocolaram na Câmara pedido de audiências públicas para discutir os projetos e diz que realizarão um ato na frente da prefeitura nesta terça-feira (1º), a partir das 16h, para protestar.
O prefeito Marchezan sustenta que essas medidas fazem parte de um conjunto de ações para tentar amenizar os problemas financeiros enfrentados pela Prefeitura.
— Nós temos que viver num mundo real. A situação de fato da prefeitura é de não ter recursos suficientes para entregar saúde, segurança, educação. E mesmo assim, foram sendo ampliados benefícios financeiros para boa parte dos servidores, principalmente, para os que já têm os maiores salários entre os nossos colegas — afirma Marchezan.
Saiba o que preveem os projetos:
— Licença-prêmio:
Projeto de emenda à Lei Orgânica busca extinguir a licença-prêmio. Hoje, a lei assegura uma licença remunerada de três meses ao servidor que, por cinco anos, não tiver interrompido a prestação de serviços e tiver assiduidade. Na justificativa, o governo argumenta que ela representa "longo tempo de inércia do servidor em contradição com a necessidade de prestação de seus serviços em caráter continuado". O projeto assegura ao servidor o benefício já adquirido.
— Pagamento no mês seguinte e parcelamento:
Outra proposta de emenda à Lei Orgânica pretende alterar a regra sobre o tempo e forma do pagamento a servidores e pensionistas. Hoje, a Lei Orgânica diz que o pagamento mensal da retribuição dos servidores, dos proventos e das pensões deve ser realizado até o último dia útil do mês a que corresponder. Segundo o projeto de Marchezan, passariam a ser pagos até o quinto dia útil do mês subsequente. O 13º salário também poderia ser pago até o quinto dia útil do mês de janeiro do ano subsequente, e não mais até 20 de dezembro.
Este mesmo projeto prevê também que, quando os pagamentos não forem feitos dentro da data estipulada, os "valores a serem quitados corresponderão aos vigentes no mês do seu pagamento, admitido o parcelamento na forma da lei". Até então, de acordo com a Lei Orgânica, eles poderiam "ser liquidados com correção pelos índices que forem aplicáveis para a revisão geral da remuneração dos servidores municipais".
— Alterações em benefícios
O projeto de Lei Complementar proposto por Marchezan altera vários artigos de leis que estabelecem, entre outros, o Estatuto dos Funcionários Públicos e planos de carreira.
Entre as mudanças, visa a extinção dos chamados adicionais por tempo de serviço de 15% (quinze por cento) e 25% (vinte e cinco por cento) — o servidor hoje recebe uma gratificação de 15% quando completa 15 anos e de mais 10% ao fazer 25 anos de trabalho. Ainda segundo essa proposta, não haverá mais o triênio, ou seja, aumento de 5% a cada três anos de serviço público municipal, e passará a haver "quinquênios": aumento de 3% a cada 5 anos. Haverá uma regra de transição para contemplar o direito já adquirido, e esse benefício ficará restrito apenas aos servidores efetivos (não aos que ocupam cargo em comissão, nem celetistas).
Junto a essas propostas, o prefeito também encaminhou um Projeto de Emenda à Lei Orgânica do Município que permitirá a privatização dos serviços de água e esgoto da cidade.