Nos últimos dois anos, Porto Alegre e eu andamos nos estranhando. O desentendimento começou, acho, em 2015, quando voltei à cidade após longo período fora. Não falarei aqui das mazelas que todos conhecemos: além da tormenta econômica e das assustadoras manchetes diárias, o que me perturbava era uma espécie de desmazelo metafísico, um decrescimento ontológico, como se a própria essência da cidade estivesse se tornando rarefeita e cada vez mais difícil de captar. Andando ao léu, eu sentia imensa dificuldade em reconhecer o espírito dos lugares onde havia me perdido, alegremente, lá no fim dos anos 1990, recém egresso das profundezas atávicas da campanha bajeense.
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José Francisco Botelho: "Como reencontrei Porto Alegre"
O que me salvou, como sempre, foram os livros. Incapaz de reencontrar Porto Alegre na realidade, tentei reconstruí-la na imaginação
José Francisco Botelho