É em busca da proteção, sob o escudo, e a defesa, com suas poderosas armas, que uma multidão de devotos participa, neste final de semana, das homenagens a São Jorge, o Santo Guerreiro.
Na Capital, estão previstas diversas comemorações no domingo. Cada fiel que se aproxima do andor na paróquia que fica no Bairro Partenon, tem um testemunho de fé em São Jorge, um dos santos mais populares na igreja católica e em Ogum, como é chamado o orixá nas religiões afro.
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O agente comercial Jeronimo Perez, 61 anos, é devoto de São Jorge há mais de 30 anos. Já percebeu inúmeras vezes, no cotidiano, a força do santo, que o auxiliou a enfrentar dificuldades. Mas foi num sonho que ele percebeu um chamado importante:
– Ano passado, sonhei que tinha que ajudar na festa. Aí, chegamos na procissão, como sempre fomos, e uma senhora me pediu para que ajudasse a carregar as cordas (no entorno da imagem). Eu entendi como um chamado e, quando me aposentar, pretendo ajudar na festa – promete Jeronimo, acompanhado da esposa Dalva.
Já a esteticista Simone Cortez, 29 anos, segue os passos do pai, falecido há quase um ano, levando a filha Evellyn Sophiye, oito meses, até o andor de São Jorge. Simone recorda o quadro com a imagem do santo e as velas que o pai acendia em homenagem. Para ela, o pai enfrentou o câncer e viveu por 18 anos após a doença graças à devoção.
– Hoje (sexta-feira), faz quatro anos que a minha mãe morreu e quase um ano que meu pai morreu. É um dia triste. Mas como meu pai era muito devoto, eu quis vir até a igreja. Fiquei muito feliz porque a minha filha gostou – disse a mãe, depois de aproximar a menina da imagem de São Jorge.
A aposentada Jussara Oliveira, 65 anos, levou a foto dos filhos para pedir a proteção de São Jorge.
– Minha fé é tão grande que vim morar perto da igreja. Uma época eu morava num lugar onde estava difícil e pedi para que ele me ajudasse a conseguir um lugar para mim. Eu consegui. Hoje, peço ajuda para vender a minha casa. A fé é tudo na vida – conclui Jussara.
Dia de trabalho e fé
Quem pensa que a devoção ao Santo Guerreiro limita-se às dependências da igreja, está enganado. Na Avenida Bento Gonçalves, uma série de banquinhas reúne ambulantes oferecendo velas, flores e lembranças da festa.
– Vamos caçando espadas-de-são-jorge pelos matos – diverte-se a agente de saúde e florista Jovina Dornelles, 38 anos, sobre a tradicional planta que os devotos costumam ter em casa.
Mesmo diante de uma grande movimentação – ao longo de toda a festividade, são esperadas mais de 100 mil pessoas –, Jovina achou tempo para fazer as preces a Ogum, seu orixá de cabeça (que rege a sua vida). Há 20 anos, a família dela trabalha na festa. No momento, pede pela saúde do esposo, com quem casou na Paróquia de São Jorge.
– Que Ogum abra os caminhos das pessoas e os pensamentos, pois estamos precisando – disse.
Um santo que traduz a força
– São Jorge é um santo que traduz a força e a coragem que as pessoas necessitam diante das dificuldades, que não são poucas – explica o pároco, Sérgio Belmonte, lembrando que as festividades atraem gente de todos os credos.
O padre lembra que um momento na trajetória de São Jorge que faz sentido na atualidade.
– São Jorge renunciou o suborno e a corrupção. Diocleciano disse que se ele negasse a fé em Cristo, receberia um alto cargo no império e ele renunciou, deixou de ser militar.
Neste ano, além da imagem de São Jorge, a procissão contará com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, que virá do Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, dentro das comemorações dos 300 anos da aparição da imagem. Outra novidade será a realização da primeira missa campal embaixo do viaduto nas imediações da igreja.
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Quem foi
São Jorge, o Santo Guerreiro, nasceu em 280 d.C., na antiga Capadócia, região que hoje pertence à Turquia. Aos 18 anos, ele ingressou no exército romano e logo alcançou um alto posto na instituição. Mas, por ser cristão e se recusar a negar sua fé, morreu decapitado aos 23 anos, no dia 23 de abril de 303 d.C., por ordem do Imperador Diocleciano. Nas religiões afro, Ogum é o guerreiro vencedor de dificuldades, destruindo inimigos com a sua espada e abrindo os caminhos para aqueles que querem vencer pela paz, pelo amor e pelo respeito.
Oração de São Jorge
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem, tendo mãos, não me peguem, tendo olhos, não me vejam e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar. Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos. Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. São Jorge rogai por nós.
Programação de domingo
Carreata
- A Federação Afro Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul (Fauers) realizará, no domingo, a partir das 15h, a 9ª Carreata em homenagem a São Jorge e Ogum. A saída será da sede da federação, na Rua Fernando Abbot, 159, Bairro Nossa Senhora das Graças, em Canoas. O destino será o Largo Zumbi dos Palmares, na Capital, onde será realizada uma roda religiosa. Informações pelos telefones: 3472-3500 e 99117-2048.
Cavalgada
- No domingo, acontecerá, a partir das 9h, a 24ª edição da Cavalgada em homenagem a Pai Ogum (São Jorge Guerreiro), promovida pelo Templo Universal da Paz Pai Francisco de Luanda – Mestra Tala, na Zona Sul da Capital. Os cavaleiros percorrerão um trecho de 15km entre a Igreja Nossa Senhora de Belém (Avenida Heitor Vieira, 494, Belém Novo) até o Castelo Sagrado de Ogum, na sede do Templo (Rua Luís Correa da Silva, Bairro Lami). No templo, haverá uma saudação aos cavaleiros, almoço e atividades espirituais. Informações: 3258-6270 e 3258-6345.
Procissão
- Na Paróquia de São Jorge (Avenida Bento Gonçalves, 2.948), os festejos começam às 7h, com alvorada festiva (queima de fogos de artifício e missa para os trabalhadores da festa). Às 9h, terá início a procissão pelas ruas do bairro (o trajeto prevê caminhada pela Avenida Bento Gonçalves, Rua Guilherme Alves, Avenida Ipiranga e Terceira Perimetral) com as imagens de São Jorge e Nossa Senhora Aparecida.
- Às 10h30min, está prevista a celebração de uma missa campal, com o bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Leomar Brustolin. Ao meio-dia, será oferecido almoço – os ingressos custam R$ 25 (churrasco) e R$ 22 (galeto) e podem ser adquiridos na secretaria da paróquia até sábado. A partir das 14h, haverá festejos populares, com música. Às 18h mais uma missa. Às 20h, missa de encerramento e bênção para os devotos de São Jorge.