Prepare-se. Aproveite o seu Facebook cheio de notícias sobre a Olimpíada e esportes, porque no dia 26 de agosto, logo após a cerimônia de encerramento dos Jogos, começa o Horário Eleitoral na TV. E essa eleição vai ser especial, sua rede social que o diga.
O ano de 2016 terá a eleição mais pobre dos últimos tempos. O financiamento empresarial está proibido, a crise econômica não ajuda, e o financiamento ilegal de campanhas está na mira de investigações anticorrupção.
Com as novas regras, apenas pessoas físicas poderão doar verbas para partidos. E quem quiser fazer isso terá de ser herói. O TSE não autorizou o uso do financiamento coletivo pela internet, o crowdfunding. A boa nova é que projetos cívicos como o Vote Legal estão contornando isso, e já há quase 500 candidatos aderindo à ideia.
Como sempre, os candidatos terão acesso ao fundo partidário de suas siglas. Esse recurso é grande, e dobrou de tamanho de 2014 para cá. Hoje gira em torno de R$ 800 milhões por ano. Mas o fundo partidário é cada vez mais escasso, pois é ele, e apenas ele, quem será o principal financiador de todos os candidatos em 2016.
Com o dinheiro curto, partidos políticos tendem a apoiar poucos caciques puxadores de votos, e deixar todos os demais com centavos. Sem dinheiro para fazer comunicação de massa, o meme que viralizar nas mídias sociais será a salvação dos candidatos a prefeitos e vereadores.
Espere também assistir a eleições sangrentas (no sentido figurado, torçamos). A polarização Dilma e Aécio em 2014 deu o norte para onde caminharíamos, e o imbróglio do impeachment criou a sinfonia que escutamos hoje em dia.
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Imagine se a eleição acontecesse no Tinder. Pesquisas mostram que, para se destacar ali, homens e mulheres tendem a exagerar suas qualidades. No Tinder, apenas os mais singulares sobrevivem, e quanto mais super-humano cada um for, maiores as chances de saírem vencedores da seleção natural do smartphone.
O algoritmo do seu Facebook tem um pouco de Tinder. A tendência nas mídias sociais é valorizar os posts que gerem mais reação. O conteúdo importa menos do que como os usuários reagem à mensagem. Seu amor e ódio, representado por um clique qualquer, é a moeda das mídias sociais. Por isso, o "fale mal, mas fale de mim" acaba valendo ouro para o algoritmo do Facebook.
Isso sem contar o fator bolha. Nossa própria bolha na mídia social. Antes da internet, já buscávamos conteúdos que concordássemos, e evitávamos conteúdos de que discordássemos. Raro ver alguém lendo ao mesmo tempo Veja e Carta Capital. Já na internet podemos ainda selecionar o jornal e a revista que nos representa. Mas o algoritmo vai além, e seleciona para entrar na nossa bolha as pessoas (e os assuntos) que veremos.
Em ano de eleições sem verba, oFacebook será rei. Candidatos dependerão do algoritmo da plataforma para falar com o eleitorado. Mas isso é bom. Melhor uma eleição com muita campanha, muitas vozes, do que uma eleição silenciada.
O lado triste é que notícias falsas, extremistas e agressivas tendem a funcionar melhor do que as notícias boas, ponderadas, propositivas.