Os ataques ocorridos na noite desta terça-feira em Porto Alegre são conhecidos pelos catarinenses pelo menos desde o final de 2012. Depois da morte de uma agente prisional orquestrada pelo Primeiro Grupo Catarinense (PGC) em outubro daquele ano, o clima de insegurança tomou conta das ruas de Santa Catarina. A facção, que se instalou e ainda permanece nos presídios do Estado, deu ordens a seus integrantes por meio de um "salve geral" para que ônibus, prédios públicos e agentes de segurança fossem atacados.
Na primeira onda de ataques, ocorrida em novembro de 2012, foram pelo menos 63 atentados. Na maioria dos casos, suspeitos em motocicletas colocavam fogo nos veículos de transporte público, causando a suspensão do serviço em diversas cidades. Houve também investidas contra casas de agentes de segurança. A confirmação de que as ações eram orquestradas nos presídios veio por meio de documentos apreendidos em celas e por escutas telefônicas.
No início de 2013, entre o fim de janeiro e a segunda metade de fevereiro, os ataques recomeçaram em grande quantidade, com 110 crimes em todas as regiões. Nesta onda de ataques, o governo do Estado recorreu à Força Nacional de Segurança, que veio para Santa Catarina atuar dentro dos presídios, pontos centrais das ordens dos atentados, por 90 dias. Os profissionais ajudaram na transferência de presos e na segurança interna diante de uma possível revolta dos apenados.
Ao mesmo tempo, o sistema prisional catarinense transferiu 40 detentos apontados como líderes do PGC para a Penitenciária Federal de Mossoró (RN). Parte deles continua no Norte do país, mas alguns deles retornaram na última semana a SC. Nesta mesma onda, as polícias fizeram uma operação em diversas cidades que prendeu envolvidos nos ataques que estavam nas ruas - entre eles, foram detidos advogados.
Mesmo com as transferências e a ação policial, os atentados voltaram em outubro do ano passado. A partir de ordens vindas novamente dos presídios, incluindo a Penitenciária de Mossoró, como concluiu a Polícia Civil catarinense, 77 ocorrências foram registradas. Um agente prisional aposentado foi morto em Criciúma e duas mulheres ficaram gravemente feridas em atropelamento causado por suspeitos de atirar contra uma base da PM. Os ataques somente foram cessados com uma nova vinda da Força Nacional de Segurança, seguida pela transferência de 20 presos para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Os agentes da Força ficaram 30 dias no Estado e, desta vez, também atuaram em patrulhamento nas ruas e em operações na fronteira e divisas de SC. Assim como na primeira vinda, o número de profissionais enviados não foi divulgado por questões de segurança.
Entre as três principais ondas, ocorreram outros ataques pequenos, sempre motivados por insatisfações dos detentos ou represálias sofridas pela facção. Na Justiça, a resposta veio em julho de 2014. Os 80 acusados de participar dos ataques de 2012 e 2013 foram condenados a mais de mil anos de prisão. Nesta quinta e sexta-feira, o Tribunal de Justiça julga o recurso dos envolvidos. A audiência deve ser a maior já realizada na história catarinense. Serão dois dias de avaliação dos desembargadores em um momento que deixa a segurança pública do Estado em alerta.
Segundo as investigações policiais, quem cometia os atentados nas ruas atuava a partir dos pedidos dos líderes da facção, sendo que a maioria dos ordenados devia favores ao bando. Atualmente, o governo catarinense mantém um grupo envolvendo polícias Civil, Militar e Federal, Tribunal de Justiça, Ministério Público, além de outros órgãos, que se reúne semanalmente para debater o monitoramento do crime organizado. A equipe só foi formada depois das duas primeiras ondas de ataques, quando o Estado passou a admitir oficialmente que o PGC existia, atuava dentro e fora dos presídios e ordenava os crimes nas ruas.
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