Ao cobrir uma das piores tragédias ambientais já registradas no país - o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) -, foi possível testemunhar como convivem, nem sempre harmoniosamente, dois países diferentes. Um é o Brasil das grandes empresas, das obras monumentais, dos órgãos de fiscalização, dos gabinetes de governo. O outro é o de quem vive à sombra das grandes empresas, das obras monumentais, dos órgãos de fiscalização e dos gabinetes de governo.
Durante a viagem de seis dias, na qual percorremos o curso da lama em Minas Gerais para documentar os estragos provocados pelo desastre, encontramos por inteiro o país de homens e mulheres que se sustentam pelo trabalho no campo ou em pequenos negócios, mas apenas vislumbramos o Brasil institucional. Encontramos um de seus braços na forma de uma barreira policial que impediu nosso acesso à localidade de Bento Rodrigues.
- Não pode passar. Talvez, só se conseguir autorização do comandante.
- Onde fica o comandante?
- Em uma sala na sede da Samarco - respondeu o policial.
Tem curiosas relações e estranhas prioridades esse Brasil que, de tão grande, nunca se mostra por inteiro. Tivemos de andar 30 minutos por uma trilha no meio do mato para conseguir avistar o povoado arrasado por milhões de metros cúbicos de lama. Lá viviam os habitantes desse outro país formado por gente sem cargo, crachá ou uniforme. Pessoas que se ocupam de plantar, pescar, vender. Pessoas como seu João Nascimento de Jesus, 70 anos, e sua mulher, Maria Irene, 76.
Os dois Brasis de Mariana
Instâncias oficiais falharam com a população na maior tragédia ambiental do país
Jornalistas de ZH que estiveram em MG para cobrir os danos da enxurrada de lama da Samarco contam suas impressões
GZH faz parte do The Trust Project