Há seis anos no Pop Center - Centro Popular de Compras, popularmente conhecido como Camelódromo -, no Centro da Capital, o comerciante Ivan da Silva, 47 anos, pretende fechar sua loja em dezembro ou janeiro. Segundo ele, a falta de movimento - especialmente no bloco B, que fica entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Mauá - e o valor do aluguel e condomínio, que considera alto, fazem o lucro despencar.
- Ultimamente, só estou tendo dívidas - lamenta. - Vou sair pra rua de novo, aqui não está dando para sustentar - diz, acrescentando que paga cerca de R$ 2 mil mensais.
A queixa de Ivan não é isolada. O Pelas Ruas contou mais de 60 pontos fechados na última quarta-feira e, segundo comerciantes, o êxodo de lojistas é resultado da soma dos altos custos e do baixo movimento. Valter Machado de Lima, 59 anos, presidente da Comissão dos Camelôs Vendedores Ambulantes de Porto Alegre, diz que a maioria das lojas está lacrada e, em outras, os comerciantes preferem não abrir por pouco movimento. Ele afirma que há mais gente como Ivan, esperando o Natal passar para deixar o espaço.
- No bloco B, acredito que 70, 80% vai desocupar.
Outro comerciante que também cogita deixar o local é Vicente Chirivino, 58 anos, que diz estar "pagando do bolso" para manter a loja. Diva Moreira da Silva, 67 anos, defende que o valor de aluguel no bloco B deveria ser menor, mas Anibal de Oliveira, 65 anos, destaca que no bloco A também sofre com a baixa frequência de consumidores.
- Está pior por causa da crise. Não se lucra nada, está a coisa mais difícil do mundo - diz o lojista.
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Em contrapartida, os irmãos Daniel da Rosa Machado, 29 anos, e Fabio da Rosa Machado, 34 anos, que pagam R$ 113 por semana de aluguel e R$ 220 por mês de rateio de despesas, destacam que seu comércio está crescendo.
- O valor do aluguel é bom, porque fica no Centro de Porto Alegre e tem movimento, tem marketing pra levar o povo até lá em cima - diz Daniel.
Vereadores farão audiência neste mês
De acordo com o edital elaborado na criação do Centro Popular de Compras, que foi aberto em 2009, o valor inicial a ser cobrado dos comerciantes era de R$ 23,75 semanais por metro quadrado. Hoje, de acordo com a administradora do Pop Center, a Verdi Construções, o valor é de R$ 37,66 por metro quadrado, fora o rateio mensal de despesas com segurança, limpeza e energia - que os lojistas chamam de condomínio e também varia de acordo com a metragem. Um comerciante que gerencia uma loja de dois por dois metros, por exemplo, tem aluguel semanal de R$ 150,67 e, referente ao mês de outubro, pagará o rateio de R$ 261,15.
Os lojistas procuraram vereadores, que devem realizar uma segunda audiência cobrando explicações da administradora e da prefeitura - já que o Camelódromo é uma concessão de uso de bem público - na segunda quinzena de novembro.
- A ideia do CPC não está sendo cumprida. Há um condomínio abusivo, um aluguel abusivo. Falta transparência na prestação de contas, os comerciantes acham que estão pagando coisas a mais - diz a vereadora Fernanda Melchiona, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh).
Em relação aos questionamentos levantados pelos lojistas, a Verdi Construções, administradora do empreendimento, emitiu uma nota afirmando que segue rigorosamente o que foi estabelecido pela prefeitura de Porto Alegre no edital de licitação, sobre valores de aluguel por metro quadrado e índices de reajuste. Informou ainda que a prestação de contas referente ao rateio das despesas sempre esteve à disposição dos comerciantes e demais interessados, conforme planilhas e notas fixadas em mural existente na área da administração do empreendimento. A Verdi afirma ainda que todas as despesas extras são decididas pelo Comitê Gestor, formado por representantes dos comerciantes populares, da administradora e da SMIC, e que as contas foram submetidas à análise do Poder Judiciário, por força da ação judicial ajuizada pela já extinta Associação dos Comerciantes do Centro Popular de Compras de Porto Alegre, que as "julgou boas".
A administradora ainda afirmou que há apenas 22 lojas fechadas - o restante seria de lojistas que optaram por não abrir no dia visitado pelo ZH Pelas Ruas - e que, de acordo com dados de 2013, o movimento semanal passa de 280 mil pessoas - não foram disponibilizados dados mais recentes.
A Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SMIC) confirmou que os valores foram definidos pelo edital de concorrência publicado pela prefeitura, que licitou a empresa responsável pela construção e posterior administração, e afirmou que a prefeitura faz a gestão das questões relativas à ocupação e fiscalização das lojas.