primeira vez, os quadros pintados pelo barbeiro Dante Dalpian Machado, 75 anos, deixarão as paredes da cinquentenária barbearia do Bairro Navegantes, em Porto Alegre, para serem expostos no Pinacoteca Bar, no Bairro Cidade Baixa, a partir do próximo dia 24. A mostra apresentará uma seleção de 12 obras executadas por ele - que dispensa pincéis e usa apenas os dedos para produzir os trabalhos.
Em junho deste ano, a história do barbeiro foi mostrada pelo Diário Gaúcho, a partir da sugestão de um leitor, o fotógrafo José Luiz Dias da Silva. Na época, Dante confessou que o maior desejo dele era fazer uma exposição na Usina do Gasômetro, vender as obras e entregar o dinheiro para um asilo de idosos.
Ao saber da história por meio da reportagem, a curadora do Pinacoteca Bar, Bibiana Ferreira Pereira, decidiu visitar a barbearia, e impressionou-se:
- Durante sete anos, estudei arte na faculdade, e nunca vi nada igual. Na primeira vez que visitei a barbearia, me emocionei. Só no Brasil encontramos artistas, como o Dante, criando escondidos em cantinhos como este.
Com a exposição, Bibiana pretende dar o pontapé inicial para montar um portfólio do pintor Dante e apresentá-lo às galerias de arte do Estado.
- Cada trabalho tem dramaticidade própria e uma luz única. Isso é bem raro - justifica.
Lembrança
Para Dante, o sonho de ser reconhecido como pintor está próximo de se concretizar. O sorridente barbeiro não esconde os olhos marejados quando fala que mostrará o trabalho a outros admiradores de arte.
- Me descobri pintor há três anos. Simplesmente aconteceu, sem inspiração. As pessoas chegam aqui e têm reações diferentes. Cada um tem uma história. Cada um transmite uma emoção - acredita.
Solidão inspiradora
Sem jamais ter feito curso de pintura ou visitado uma galeria de arte, Dante cria em pedaços velhos de laminado e usa amarelo, vermelho e azul - cores primárias. É na solidão, pelas manhãs, que o barbeiro transforma-se em pintor. Ele confessa ter dificuldades para produzir na presença de outras pessoas. E se está pintando, não vê ninguém.
Nenhuma obra tem nome. Nenhuma fica igual à outra. Todas remetem a paisagens e algumas deixam transparecer rostos angelicais. São mais de 200 guardadas na saleta de 9 metros quadrados onde mora e atende os clientes.
- Quero que minhas obras façam o bem para alguém e fiquem como lembrança da minha passagem por este plano - resume, emocionado, Dante.
Na ponta dos dedos
Barbeiro-pintor de Porto Alegre fará primeira exposição
Depois de ter seu trabalho mostrado nas páginas do jornal, artista autodidata exibirá seu trabalho pela primeira vez
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: