Até a remoção das 464 famílias que moram nas vilas Tio Zeca e Areia, na área onde será construída a nova ponte do Guaíba, em Porto Alegre, estão suspensos os trabalhos do bate-estaca nas proximidades das casas. A decisão foi anunciada durante uma reunião envolvendo moradores, Demhab e Dnit. O encontro ocorreu depois de quatro protestos das famílias, durante a semana, nas imediações da Rua Voluntários da Pátria. Elas alegaram que a força do bate-estaca das obras está causando impacto nas moradias do entorno. A ponte terá 7,3 quilômetros, dos quais 2,9 são de extensão. O restante serão vias de acesso.
Uma delas é a da babá Ana Paula Xavier, 27 anos, que há seis anos vive com o marido e duas filhas num cômodo de alvenaria, exatamente, em frente ao canteiro de obras da Voluntários. Ana Paula sustenta que as rachaduras nas paredes e no piso começaram a surgir há dois meses, quando as obras ganharam força. Com medo da casa cair, ela e as filhas ficam na rua das 8h às 18h, e só retornam quando cessam os trabalhos do Consórcio Ponte do Guaíba.
- Quando dá a batida, o chão pula e as casas tremem. Parte do piso de cerâmica e a porta de entrada se soltaram. Lembra um terremoto - conta Ana Paula, inscrita no Dnit sob o número 087 para ser removida.
Uma assistente social e um engenheiro do Consórcio estiveram na casa da babá e fizeram uma rápida vistoria. Mas não houve promessa de retirada da família antes das outras. Segundo nota da assessoria de imprensa do Dnit "o Dnit e o Consórcio Ponte do Guaíba já realizaram vistoria cautelar nos imóveis próximos à obra e estão monitorando a situação, inclusive com auxílio de um sismógrafo. Por enquanto, a equipe do bate-estaca será deslocada para trabalhar mais próxima à Freeway".
Outras notícias sobre a remoção
Atraso
O diretor do Demhab, Everton Braz, calcula que o início das remoções só deverá ocorrer dentro de 18 meses, diferente do anunciado há seis meses, quando se previa para dezembro deste ano. A Fepam só aprovou o projeto habitacional no final de setembro. As 534 famílias da Ilha dos Marinheiros irão para a parte Sul da Ilha. Já as 464 da Tio Zeca e da Areia serão transferidas para duas áreas: na Rua Ernesto Neugebauer, no Bairro Humaitá, e outra entre a Rua Dona Teodora e a Voluntários da Pátria. Ao todo, serão impactadas pelas obras da nova ponte 998 famílias e 33 comércios e instituições.
O DNIT ainda aguarda a aprovação da prefeitura de Porto Alegre do projeto da infraestrutura a ser implantada nas áreas citadas para iniciar as obras de redes de esgoto, água, energia elétrica, arruamento e calçamento. Com isso, as áreas ficam prontas e adequadas para que seja realizada pelo Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal a licitação para a construção das moradias. Essas moradias serão erguidas por meio do programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Uma nova reunião com os moradores cadastrados deverá ocorrer até a segunda quinzena de novembro para apresentar à comunidade o projeto do reassentamento e esclarecer sobre o processo de remoção.
Ocupação quer espaço
Todas as casas identificadas (que tiveram um número pintado na parede) serão reassentadas. Há um grupo de 60 famílias, porém, que ocupou uma área entre a Tio Zeca e a Vila Areia, um mês após o início da obra e que pretende fazer parte dos reassentados. A dona de casa Cristiane da Costa Pedroso, 25 anos, que veio de Alvorada com a família, é uma delas. Ela participou da reunião na sexta-feira e teve a promessa de que o Demhab e o Dnit estudarão a cidades específica destes moradores.
- Há a promessa de uma nova reunião em novembro para discutirmos como fica a situação das nossas famílias. Estamos exatamente no local por onde passará a ponte. Não podem começar a construí-la com os moradores no local - comentou.