A agonia do Hospital Parque Belém, na zona sul de Porto Alegre, revela uma contradição em tempos de superlotação em instituições de saúde. Com 242 leitos, cinco salas de cirurgia novas e 20 leitos de UTI, o hospital abriga, hoje, somente 46 pacientes - 36 no setor de dependentes químicos e 10 pelo Instituto de Previdência do Estado (IPE).
Sem dinheiro sequer para pagar os funcionários, o Parque Belém está ameaçado de fechar. Uma enfermeira relatou que teve o salário parcelado em três vezes em maio, em junho recebeu apenas R$ 166 e até agora não há sinal de que o vencimento de julho será pago - a promessa, segundo ela, é de pagamento na sexta-feira.
- O pessoal não está indo trabalhar. Ou vai um dia, depois falta outro - disse a enfermeira.
O número de funcionários vem diminuindo por causa da crise na instituição. O quadro tem, atualmente, 219 profissionais, e a superintendente-geral do hospital, Claudia Abreu, lembra de 27 pedidos de demissões recentes. Há transferências de pacientes clínicos para o Hospital Vila Nova. E a prefeitura não tem encaminhado novos pacientes para o Parque Belém.
Na manhã desta quinta-feira, trabalhadores de hospital fizeram um protesto na região por causa do não pagamento dos salários. O Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Casas de Saúde do Rio Grande do Sul (Sindisaúde-RS) tem criticado a administração do hospital, citando vencimento de R$ 40 mil a R$ 60 mil de seus gestores. Claudia nega que os diretores recebam tais valores:
- Houve um enxugamento, e, hoje, são somente cinco pessoas na direção. Os salários de todos os diretores juntos chega a esse valor citado pelo Sindisaúde.
Mas Claudia confirma que a crise é uma bola de neve difícil de controlar. A instituição aguarda o pagamento de uma parcela mensal de R$ 232 mil que não teria sido paga pela prefeitura, referente a junho deste ano. Com o montante, espera quitar parte dos salários. Ainda faltarão pouco mais de R$ 100 mil, o que poderá ser coberto por pagamentos do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, permanecerá a dificuldade financeira para os meses seguintes, com repercussão não só para os funcionários.
- As compras com os fornecedores estão sendo feitas somente à vista, porque o hospital está sem crédito - salientou Claudia.
O hospital tem uma dívida relacionada ao custeio para abrir a emergência, que foi pago pela prefeitura em 11 vezes de R$ 300 mil, explica a superintendente. No final do período, a emergência não foi aberta porque, segundo Claudia, o Ministério da Saúde não comprou os equipamentos que faltavam para fazê-la funcionar. No entanto, o dinheiro teria tido outra destinação. Agora, o hospital tem sido descontado em R$ 128 mil todo mês, a título de devolução, apontou Claudia.
A diretoria do Parque Belém busca parcerias para evitar o fechamento, porém, ainda não há nada concreto. Uma especulação era de que o Hospital Mãe de Deus poderia assumir a gestão do Parque Belém, o que não foi confirmado até o momento.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ainda não confirmou se a parcela reivindicada pela diretoria do Parque Belém realmente não foi paga. Nesta quinta-feira, a SMS comentou o assunto por e-mail. Confira a íntegra abaixo:
A Secretaria Municipal de Saúde vem há 2 anos discutindo com o Hospital Parque Belém a melhor maneira de equalizar a questão dos repasses e a correspondente resposta do hospital no sentido de oferecer serviço de qualidade para o SUS. A SMS já fez vários ajustes no plano operativo sempre com o intuito de dar oportunidade para que o hospital consiga fazer seus ajustes de gestão e cumprir as metas estabelecidas com o município. A SMS segue tentando uma saída, desde que o Parque Belém cumpra o acordo sem prejuízos ao atendimento do SUS.