Quase escondida entre os morros do Vale do Taquari, Poço das Antas, de 2 mil habitantes, tornou-se gigante ao conquistar neste ano o primeiro lugar no ranking das cidades gaúchas com menor déficit de vagas na educação infantil. Pelo levantamento anual do Tribunal de Contas do Estado (TCE), baseado em números de 2013, a cidade, distante 98km de Porto Alegre, ultrapassou os 100% de atendimento de crianças com idades entre zero e cinco anos. Além dos 112 moradores da cidade nesta faixa etária, a prefeitura ainda atendia naquele período outras 16 crianças de cidades da região.
Faceiro pela conquista, o secretário municipal de Educação, Cultura, Turismo e Desporto, Gilberto Redecker, garante que de lá para cá os números só aumentaram. Neste ano, calcula, já são cerca de 150 crianças nesta faixa etária, sendo que 40 são das vizinhas Brochier, Maratá, Salvador do Sul e Teutônia.
- Isso só foi possível porque temos uma parceria com o frigorífico Languiru, há três anos instalado na cidade. Como não tínhamos mão de obra suficiente, eles contrataram moradores da região e nós oferecemos a escola para os filhos destes funcionários. O frigorífico também auxilia com parte dos custos (R$ 148 mensais por aluno com até seis anos) - explica o secretário.
Cama e roupa lavada
Nos primeiros seis meses da parceria com o frigorífico, em 2013, o número de matrículas da educação infantil em Poço das Antas aumentou 30%. O secretário conta que a prefeitura decidiu ampliar ainda mais a oferta de vagas comprando e restaurando o antigo prédio do hospital, desativado há uma década na área central da cidade. Hoje, no Centro Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Poçoantense, estudam 220 crianças da educação infantil e do ensino fundamental.
Como o frigorífico inicia o turno às 7h, o Centro abre uma hora antes para receber os filhos dos funcionários e segue recebendo alunos até às 8h. O expediente só termina depois das 17h. Cada criança, com idades entre quatro meses e cinco anos, tem o seu próprio carrinho de bebê, cama com lençóis e os estojos com escovas de dentes identificados pelo nome do aluno. Tudo fornecido pela prefeitura.
- É quase como um hotel, eles têm até roupa de cama lavada. Queremos que os pais trabalhem tranquilos, sabendo que os filhos estão sendo bem atendidos. Estamos investindo no nosso futuro - garante Gilberto.
"Foi a melhor decisão que tomei"
Moradora de Brochier, a 16km de Poço das Antas, a auxiliar de carregamento Sheila Castilho, 28 anos, abre um sorriso largo quando questionada sobre a decisão de colocar o filho Erick, dois anos, na creche da cidade vizinha. Funcionária há quase dois anos do frigorífico, Sheila não se importa de sair de casa às 5h35min para deixar o filho na escola 45min depois. Por não ter na cidade onde mora uma escola com horário diferenciado, Sheila optou por Poço das Antas. Enquanto Sheila trabalha, Erick tem refeições controladas por uma nutricionista, atividades de música, recreação, brinquedoteca, educação física e, quando chegar aos quatro anos, terá aulas de informática.
- Ele chega a chorar para não ir para casa, de tanto que gosta. Percebo a diferença da escola ao comparar com a dos meus filhos mais velhos, que não tiveram a mesma oportunidade. Foi a melhor decisão que tomei para o Erick, porque trabalho tranquila -diz.
Investimento acima do recomendado
No ano passado, a prefeitura investiu em educação 34% da receita municipal de R$ 9.715.181,95 - 9% a mais do que o recomendado pela Constituição Federal. A verba foi investida no transporte dos estudantes e no Centro de Educação.
Para manter os pequenos na escola, a diretora do Centro de Educação, Vânia Brackmann, criou diferentes atividades com o aval da Secretaria de Educação. Danças gauchescas, aulas de música, horta comunitária, brinquedoteca, educação física, recreação e informática estão no currículo. Houve até a compra de novos carrinhos para os bebês e de bicicletas e motocicletas para as crianças acima de três anos.
E é na frente dos computadores que Maria Eduarda de Lima, quatro anos, demonstra ser a fera da informática. Moradora de Teutônia, a menina aprendeu a mexer no teclado brincando em casa e aperfeiçoou a técnica na escola.
- Gosto muito de computadores desde bebê. E gosto mais de ajudar os coleguinhas - comenta Maria Eduarda, sem tirar os olhos da tela enquanto orienta duas colegas num novo jogo.
Na primeira semana na nova escola, Sara Yasmin Kussler, de Brochier, três anos, perdeu o medo da bicicleta ao aprender a andar com a orientação da recreacionista.
- Ficou com medo no início, mas bastou um incentivo para andar sozinha. Ela aprendeu rápido - comentou, entusiasmada, a professora Roberta Schneider.
"Educação sempre vale!"
Para o secretário Gilberto, que por quase 30 anos foi diretor de escola pública, a maior dificuldade é conscientizar os moradores da cidade sobre a importância do investimento nos pequenos. Ele comenta que parte dos eleitores cobra da prefeitura pavimentação nas ruas ainda de terra de Poço das Antas - só a área central tem asfalto.
- Nesta gestão não fizemos um metro quadrado de pavimentação, mas estamos investindo no futuro. As pessoas querem apenas ver coisas sendo feitas, mas nós queremos colher. Por isso, investimos forte na educação e na agricultura. Gente do céu, vai valer a pena! Educação sempre vale! - acredita.
Universitários também têm apoio
Mas não são apenas as crianças de Poço das Antas e das cidades vizinhas que têm atenção da prefeitura. Os universitários também recebem apoio para seguirem estudando. São cerca de 50 estudantes espalhados por seis universidades da região que recebem uma ajuda de custo para o transporte de R$ 36 por disciplina. Os alunos dos cursos técnicos recebem a mesma quantia.
Segundo Gilberto, a intenção é manter os jovens morando na pequena cidade depois de formados. Para ganhar o benefício, basta apresentar mensalmente o atestado de residência, a matrícula e uma conta corrente. A prefeitura se encarrega do depósito.
- Como não temos universidade na cidade, o morador costuma se mudar para continuar estudando. Se continuar morando e pagando o transporte, poderá seguir aqui depois - acredita.
Aluno do 4º semestre do curso de Designer Gráfico, na Univates, em Lajeado, Caio Luis Moellmann Schneider, 23 anos, utiliza o dinheiro recebido da prefeitura para pagar o ônibus que o leva até a universidade. Para pagar a faculdade, Caio é um dos monitores da oficina de informática no Centro de Educação.
- É muito difícil pagar tudo. A ajuda de custo vem sempre em boa hora - diz.
Confira o vídeo da reportagem
O caminho das pedras
* Fez parceria com a principal indústria da cidade, que auxilia dos custos dos alunos dos filhos dos funcionários.
* Comprou o prédio do hospital, desativado há mais de uma década, e o transformou no Centro Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Poçoantense.
* Aplica 30% da renda da Educação em folha de pagamento com a contratação de novos profissionais: professores, atendentes e estagiários.
* Comprou terreno, com verba municipal, para a construção de uma nova escola de ensino fundamental, financiada pelo Governo Federal. A obra deve ser finalizada neste ano.
* Com a transferência dos alunos do ensino fundamental para a nova escola, novas vagas deverão ser aberta na educação infantil.
* Para manter os alunos na escola, oferece transporte gratuito para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.
* Dá ajuda de custo no transporte dos universitários e dos estudantes de cursos técnicos (R$ 36 por disciplina cursada). Para receber o benefício, basta apresentar mensalmente o atestado de residência, a matrícula e uma conta corrente. A prefeitura se encarrega do depósito.
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Educação
Poço das Antas: a campeã gaúcha em educação infantil
Cidade de 2 mil habitantes, no Vale do Taquari, mostra como se tornou a número 1 com o menor déficit de vagas na educação infantil
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