Ignorando a dificuldade do PT nas eleições municipais no Rio Grande do Sul, o prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella (PT), atropelou os adversários do PP e do PSDB ao ser reeleito com 81,19% dos votos válidos no pleito de 2024. Outra demonstração de vigor: todos os 11 vereadores eleitos na cidade são da coligação de Battistella, sendo cinco deles petistas.
Não haverá oposição na Câmara entre 2025 e 2028. Será o quarto mandato consecutivo do PT em Nova Santa Rita, município que se tornou um reduto do partido na Região Metropolitana. O cenário local contrasta com o desempenho da sigla no Estado, onde teve redução no número de prefeituras.
– Ter aceitação de mais de 80% é incrível. A população confia no nosso trabalho e isso aumenta a responsabilidade. O próximo mandato, o meu segundo e o quarto do PT, será o melhor de todos – promete Battistella, 43 anos, reeleito com 12.130 votos.
Uma das razões para a hegemonia petista em Nova Santa Rita é o processo de desenvolvimento econômico, coincidente com os mandatos do partido e impulsionado pelo crescimento de condomínios logísticos e do comércio online. Em 2012, o PT conquistou a prefeitura pela primeira vez com Margarete Simon Ferretti. Naquele ano, o PIB do município foi de R$ 780,4 milhões. O PIB per capita alcançou R$ 32,8 mil.
Menos de dez anos depois, em 2021, o PIB saltou para R$ 2,5 bilhões. Também houve incremento significativo no PIB per capita, que passou para R$ 81,6 mil, mais do que o dobro em comparação com 2012.
Nos dois mandatos de Margarete, Battistella foi secretário de Desenvolvimento Econômico. Uma das apostas foi aprovar legislação para incentivar, inclusive com benefícios fiscais, a instalação de condomínios logísticos em Nova Santa Rita. O município tem localização privilegiada, às margens da BR-386 e com ligação rápida a Porto Alegre e o Aeroporto Internacional Salgado Filho via BR-448.
Também há opção de hidrovia e uma ferrovia que atravessa a cidade, operada pela empresa de logística Rumo, completando a gama de modais. Nova Santa Rita é, hoje, a sede de condomínios logísticos de referência como o 3SB e o Açorianos. No primeiro, de grande porte, está instalado o armazém da gigante mundial de comércio online Amazon, além de empresas como Lojas Colombo, Magalu e Stock Center. Um terceiro condomínio logístico está em construção, à margem da BR-386, com a promessa de que mais duas operações de comércio online se instalarão na cidade.
Além do recolhimento de tributos municipais, Battistella destaca que a unidade da Amazon, entre outras empresas, emite notas fiscais de venda com o endereço de Nova Santa Rita. Isso gera retorno de ICMS para o caixa da prefeitura, que teve o quinto maior crescimento na prévia do Índice de Participação dos Municípios (IPM) para 2025.
O IPM é o indicador usado pela Receita Estadual para repartir o bolo do ICMS.
– Nos tornamos o maior e mais completo polo logístico do Rio Grande do Sul. Criamos um ciclo de desenvolvimento econômico e social que vem gerando resultados – diz Battistella, um petista próximo do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, mas que não integra nenhuma das correntes do partido.
O setor de negócios destaca a criação da Sala do Empreendedor, estrutura municipal que centralizou e desburocratizou tramitações empresariais.
– Isso foi revolucionário e muito bem aceito. Unificou processos – diz Alexandro de Amorim, presidente da Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária de Nova Santa Rita (Acisa).
A instalação de empresas, além de ter aumentado o PIB, catapultou a arrecadação. Em 2013, a receita municipal foi de R$ 63 milhões. Os cofres ficaram mais rechonchudos em 2023: R$ 234 milhões em receitas, informou a prefeitura. O volume mais do que triplicou em uma década, o que garante recursos para investir.
No primeiro mandato, Battistella aplicou cerca de R$ 17 milhões para construir uma policlínica dedicada a consultas com especialistas médicos e exames de imagem. Mais de 20 quilômetros de ruas foram pavimentadas.
– São detalhes que se somaram, como a reforma de escolas. Vi pessoas que jamais votariam no PT fazendo isso. Votaram, na verdade, no Rodrigo Battistella pela gestão – comenta Amorim.
Coligado com PDT, PSD, União e MDB, o prefeito afirma que recebeu votos de eleitores identificados com a direita e o bolsonarismo. Ele também avalia que o desempenho na enchente, quando 2,3 mil residências da cidade foram tomadas pela água, foi decisivo para a votação esmagadora.
– Aqui ninguém passou frio, fome ou dormiu no relento – afirma Battistella, que vem de família do ramo empresarial.
Nova Santa Rita tem 29 mil habitantes e mantém características interioranas na zona urbana, com poucos prédios e ares de tranquilidade. Contudo, com a instalação de grandes empresas e geração de empregos, também estão chegando os condomínios residenciais de classe média-alta, o que tende a modificar o perfil urbano. Embora a população seja pequena, a área territorial é ampla e há espaço para construir. A cidade tem 218 quilômetros quadrados, mais do que os 130,7 quilômetros quadrados de Canoas.
Outra peculiaridade de Nova Santa Rita é a existência de quatro assentamentos da reforma agrária. Em um deles, reside o deputado federal Dionilso Marcon (PT). Os irmãos Pretto, Edegar e Adão Filho, ambos do PT, também nutrem relações políticas no município. Nova Santa Rita é, atualmente, uma das referências na produção de arroz orgânico. Os assentamentos são um ambiente de votos da esquerda, mas a avaliação é de que isso não foi determinante para o resultado de Battistella e a hegemonia petista. Vivem nos quatro assentamentos 2 mil pessoas, estima a prefeitura, contingente restrito ante os mais de 29 mil habitantes.
Outro indicativo de que os lotes de pequenos produtores não são decisivos é a eleição de 2020: Battistella venceu com apenas 262 votos a mais do que o segundo colocado, do PP. Uma margem mínima, ainda mais se comparada aos 9,6 mil votos que ele teve de dianteira em relação ao segundo colocado em 2024, novamente do PP.
– Os assentamentos são nossos parceiros, mas o que decide é a comunidade urbana, que é bem maior – diz Margate, ex-prefeita que iniciou o ciclo petista.
Residente do Assentamento Capela e diretor da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), Julcemir Fernando Marcon afirma que pequenos e médios produtores refratários ao PT, de fora dos movimentos sociais, optaram por Battistella.
– Agricultores de todos os tamanhos foram beneficiados por programas. Políticas para todos. Não para apadrinhados. Isso fez o pessoal votar em peso pela reeleição – diz Julcemir.