O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso emotivo no início da tarde desta sexta-feira (16), durante a cerimônia de inauguração do Centro de Oncologia e Hematologia do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), em Porto Alegre. A pauta da saúde pública levou o presidente a rememorar dores do passado no discurso de 21 minutos, em que exaltou o direito de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas de baixa renda. Ele se emocionou ao lembrar ter perdido a sua primeira esposa, Maria de Lourdes da Silva, em São Paulo, durante uma cesárea de emergência, em 1971.
— A enfermeira veio me dizer que morreu a minha mulher e a criança — recordou Lula, com a voz embargada e fraquejando.
Ele ainda recordou ter perdido um dedo quando era metalúrgico e ter feito tratamento contra um câncer de laringe já depois de ter encerrado os seus dois primeiros mandatos como presidente do Brasil, em 2010.
— Eu fiz quimioterapia. Radioterapia. Eu sei da importância da máquina (acelerador linear de radioterapia) que vocês compraram para ajudar a salvar vidas. (...) Quando venho num hospital público com a excelência e a respeitabilidade que vocês têm, eu fico muito feliz. É preciso acabar com essa bobagem que o Estado tem de ser mínimo — afirmou.
Na quinta-feira (15), véspera das agendas no Rio Grande do Sul, Lula já havia chorado em uma agenda na região metropolitana de Curitiba. Foi quando lembrou dos 580 dias em que ficou preso na cidade, em decorrência da Operação Lava-Jato.
O clima no GHC – instituição que atende 100% SUS – foi mais ameno se comparado com o compromisso da manhã, na inauguração de conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Nesta ocasião, o governador Eduardo Leite e Lula tiveram um embate público sobre o volume da ajuda federal ao Rio Grande do Sul estar a contento ou não no pós-enchente.
Na cerimônia no GHC, o assunto foi abordado brevemente pelo diretor-presidente do GHC, Gilberto Barichello, que defendeu o governo Lula ao dizer que "contra atos e fatos, não tem retórica que sobreviva".
Lula foi brevíssimo ao comentar. Apenas afirmou que "não precisa de agradecimento, mas não esquecer quem fez o que", em um recado a Leite. Afora isso, o assunto sumiu diante de manifestações sentimentais, de valorização do SUS e dos trabalhadores da saúde.
Leite, ao ser anunciado, recebeu um misto de vaias e aplausos do público, formado por simpatizantes e militantes do lulismo. Depois, durante sua manifestação, foi escutado até o final e colheu aplausos ao agradecer aos trabalhadores da saúde pública, incluindo os que desempenham tarefas administrativas.
Lula não deixou de criticar o antecessor Jair Bolsonaro, seu mais renhido rival, quiçá inimigo, na história recente da política brasileira. O presidente afirmou que o SUS conquistou reconhecimento público à época da pandemia de coronavírus.
— Se ele (Bolsonaro) tivesse criado um escritório de emergência, um conselho, colocado o pessoal que entende de saúde, se ele não se metesse a receitar cloroquina, teríamos salvo pelo menos a metade das pessoas que morreram nesse país — apostou Lula.
No encerramento, ele retomou o tom emotivo ao bradar:
— Voltei para provar que esse país só vai dar certo quando governado por quem tem coração e goste das pessoas.
Antes do ato político, o presidente visitou as novas instalações de saúde do GHC e pacientes que estão em tratamento.
A cerimônia aconteceu em um palco, com a plateia acomodada em cadeiras de plástico em local coberto por toldo, em terreno do GHC contíguo a um condomínio residencial, defronte à Avenida Francisco Trein, na Zona Norte de Porto Alegre. A plateia de simpatizantes tinha minoria de pessoas trajada com camisas e adereços do SUS, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e de um programa de jovens aprendizes, fruto de parceria entre o GHC e a Escola Técnica Mesquita. A maioria dos presentes não trazia nenhuma identificação com partidos ou entidades na vestimenta. Bandeiras do PT, de centrais sindicais e de movimentos sociais não compuseram o cenário. O local da solenidade ficou lotado.
Durante a cerimônia, foram anunciadas as autorizações para a contratação de projetos para duas novas obras: o Centro de Apoio ao Diagnóstico e Terapia e o Centro de Atendimento ao Paciente Crítico e Cirúrgico. As duas estruturas, ainda em etapa inicial de trâmite técnico e burocrático, são planejadas para integrar o complexo do GHC.
Após os compromissos na Capital, Lula finaliza a agenda com a entrega do Complexo Viário da Scharlau, em São Leopoldo, no entroncamento da BR-116 com a RS-240.
O que foi inaugurado na solenidade no Grupo Hospitalar Conceição
- Foi oficialmente entregue o Centro de Oncologia e Hematologia (COH). O novo espaço fica junto ao Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre, e tem área de mais de 14 mil metros quadrados, distribuída em sete pavimentos. São 94 leitos de internação hospitalar, 45 poltronas de infusão de quimioterapia ambulatorial, 22 consultórios, quatro salas de procedimentos e um espaço de convivência para pacientes, familiares e acompanhantes. O investimento foi de R$ 143,5 milhões.
- Embora inaugurado nesta sexta-feira (16), o COH está em funcionamento desde abril de 2024.
- O novo centro também contará com a instalação de um acelerador linear de radioterapia, que está em fase final de montagem e cuja operação está prevista para se iniciar em setembro. O GHC destaca que, com esse equipamento, os usuários do SUS que precisarem de radioterapia poderão fazer todo o tratamento no local. A estimativa é atender 700 pessoas por ano com o aparelho. Antes, era necessário transferir pacientes a outras instituições de saúde para a realização desta etapa. Foram mais de 1 mil encaminhados a outros hospitais em 2023, informou o GHC. Agora, o local terá condições de oferecer atenção integral.
- Conforme dados da instituição, o GHC atende 43% dos pacientes oncológicos de Porto Alegre pelo SUS. Entre os meses de maio de 2023 e de 2024, foram realizadas mais de 70 mil consultas de oncologia e hematologia. No ano passado, o GHC informa ter feito 45 mil sessões de quimioterapia.
- Com o novo espaço, o COH, a capacidade de internação será ampliada em 77%. O atendimento em quimioterapia terá acréscimo superior a 150%.
- O prédio de sete andares foi construído em área contígua ao complexo do GHC, na esquina da Avenida Francisco Trein com a Rua Umbú. Antigamente, existia no local uma praça que, após ter o terreno repassado ao controle do GHC, serviu como base para a edificação do complexo de saúde. A obra foi iniciada em fevereiro de 2014.