É falso que um vídeo de jovens fumando maconha em um soprador de folhas tenha sido gravado na Universidade Federal do Pará (UFPA). As imagens datam de, ao menos, 10 anos atrás e não foram feitas nas dependências da instituição. A cena mostrada tampouco tem a ver com a votação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre descriminalização do porte de maconha para uso pessoal.
Conteúdo investigado
Vídeo que mostra pessoas consumindo maconha em um soprador de folhas tendo, como trilha sonora, a música Daddy Cool, do grupo Boney M. Texto sobre as imagens afirma que a cena teria sido gravada na UFPA e sugere que as drogas teriam sido liberadas pelo STF.
Onde foi publicado
X (antigo Twitter).
Conclusão do Comprova
São falsas as postagens que afirmam que imagens de jovens fumando grande quantidade de maconha em um soprador de folhas foram gravadas na UFPA. É possível perceber que as pessoas na filmagem não conversam em português, mas em inglês e espanhol. A universidade confirmou que as imagens não foram gravadas na instituição. "O vídeo não procede. A filmagem não ocorreu nas dependências da UFPA", diz nota enviada ao Comprova.
Também é falsa a informação em texto, aplicada sobre o vídeo, que sugere que o STF liberou as drogas. Em agosto deste ano, cinco ministros votaram pela descriminalização do porte de maconha para consumo próprio e um votou contrário a este entendimento. O pedido de vista do ministro André Mendonça suspendeu o julgamento. O vídeo é antigo e há registros dele na internet há, pelo menos, 10 anos.
De todo modo, a Corte, neste caso, não discute a descriminalização de todas as drogas em qualquer quantidade, e sim do porte da maconha para consumo próprio. Também debate sobre a distinção entre usuário e traficante. Pelos parâmetros sugeridos pelo ministro Alexandre de Moraes, seriam consideradas usuárias as pessoas flagradas com 25 gramas a 60 gramas de maconha ou que tenham seis plantas fêmeas. O julgamento ainda não foi concluído.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação
O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, até o dia 27 de setembro, o vídeo acumulava 32 mil visualizações, 896 compartilhamentos e 1,2 mil curtidas, em três publicações diferentes.
Como verificamos
Por meio de uma busca reversa de imagem no Yandex, encontramos uma postagem com o vídeo no VK, rede social com sede em São Petersburgo, na Rússia. O VK está disponível em vários idiomas, mas é especialmente usado por falantes do russo. Neste post, feito há 10 anos, o mais antigo que encontramos, o vídeo não conta com o texto sobre a imagem, apesar de tampouco trazer informações sobre a origem da filmagem. Ainda assim, é possível verificar que o conteúdo é antigo devido à data da postagem.
O Comprova também entrou em contato com a assessoria de imprensa da UFPA.
Drogas não foram liberadas pelo STF
Sobre as imagens do vídeo, foi aplicado o seguinte texto: "Parabéns! 'Ministros'. Enquanto isso, na Universidade Federal do Pará, os alunos se divertem. Liberou geral, agora que o Brasil vai ficar nas mãos dos traficantes e zumbis atormentando a população. Faz o L L L L L…".
Em 25 de agosto, o STF interrompeu o julgamento que decidiria se o porte de maconha, e não de outras drogas, para uso pessoal é crime e se é possível diferenciar o usuário do traficante com base na quantidade de droga encontrada com a pessoa.
Para o primeiro ponto, o placar está em cinco votos a um pela descriminalização. Os votos favoráveis foram proferidos pelos ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e pela então presidente Rosa Weber. O voto contrário foi do ministro Cristiano Zanin.
O ministro André Mendonça pediu vista, o que interrompeu o julgamento. Ele tem 90 dias para devolver o tema à pauta.
Já em relação à diferenciação entre traficante e usuário com base na quantidade de maconha, todos os seis ministros que já votaram foram favoráveis, mas é preciso definir uma quantidade limite. Não se discute, neste processo, a descriminalização do porte de outras drogas.
O resultado não vai legalizar a maconha ou qualquer outra droga, ou seja, o uso ou o comércio dos entorpecentes continuará sendo proibido. O que se busca é o estabelecimento de critérios mais objetivos para diferenciar usuário de traficante, uma vez que as punições para cada caso são distintas.
O que diz o responsável pela publicação
O Comprova entrou em contato com o responsável pelo post investigado, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.
O que podemos aprender com esta verificação
A publicação de vídeos antigos, sem a apresentação da data ou do contexto da gravação, é uma tática comum por parte dos desinformadores para dar a entender que é algo atual. Como as imagens são de baixa qualidade, é difícil identificar o rosto dos envolvidos ou até mesmo o local onde o vídeo foi gravado, possibilitando que ele seja usado para diferentes propósitos em diferentes épocas.
Desconfie de vídeos em que não seja possível identificar o local, as pessoas ou a data da gravação. Além disso, a utilização de termos alarmantes, como "o Brasil vai ficar nas mãos dos traficantes e zumbis", serve para chamar atenção do público e é outra forma de impulsionar peças de desinformação.
Por que investigamos
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
O mesmo vídeo foi analisado por outras agências de checagem (Lupa, Estadão Verifica e Boatos.org).
O Comprova já checou outros conteúdos envolvendo a temática das drogas: em agosto, contextualizou a fala do ministro do STF Alexandre de Moraes sobre "drogas batizadas". Também já constatou que vídeos enganam ao sugerir que o governo federal liberou as drogas e que post engana ao associar ao MST plantação de maconha na Bahia.