Legendas que deram sustentação ao governo e à tentativa de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL e o Republicanos foram os únicos entre os 10 maiores partidos do Rio Grande do Sul a ganhar filiados desde as eleições do ano passado. O PL, inclusive, entrou no top 10 em razão desse crescimento, superando o Cidadania.
Na comparação entre outubro do ano passado e junho deste ano, os liberais agregaram 172 novos filiados no Estado, chegando a 25.666 (alta de 0,7%). Já o Republicanos recebeu 324 integrantes, alcançando, no total, 29.852 (crescimento de 1,1%).
As informações constam no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que atualiza mensalmente o número de filiações partidárias. No total geral do Rio Grande do Sul, o MDB se mantém na liderança em número de integrantes, seguido por PDT e PP (veja ranking detalhado abaixo).
Embora tenha saldo positivo de filiações a nível nacional, o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu membros no Rio Grande do Sul. Foram 696 desfiliações (-0,5%), conforme os dados da Justiça Eleitoral. Ainda assim, manteve o posto de quarto maior do Estado.
Proporcionalmente, quem mais diminuiu de tamanho entre os maiores partidos foi o PTB, que, embora siga sendo a quinta maior agremiação política do Estado, perdeu 2.242 pessoas de seus quadros (-2%). A sigla já tinha se esfacelado no Estado no ano passado depois que o então presidente nacional, Roberto Jefferson, atacou o governador Eduardo Leite, de quem os petebistas eram aliados.
Mesmo com a reeleição de Leite, o PSDB também encolheu, com 356 filiações a menos do que em outubro (-0,4%). Além dos tucanos, PSB e União Brasil (fusão do DEM com o PSL) completam a lista dos maiores partidos do Estado.
Efeito Bolsonaro
Para o cientista político Augusto Neftali de Oliveira, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o avanço do PL e do Republicanos está ligado à defesa dos ideais conservadores, propagados pelo ex-presidente Bolsonaro.
— O crescimento está ligado à importância maior, do ponto de vista de votos, cargos e relevância na sociedade dos partidos que apoiaram o ex-presidente Bolsonaro ao longo do seu mandato — avalia o especialista.
Presidente do PL gaúcho, o deputado federal Giovani Cherini atribui o resultado ao "trabalho contínuo do partido", mesmo após o período eleitoral, e afirma que o PL é "o único partido de direita" do país, calcado na figura de Bolsonaro.
— As pessoas enxergam no PL a esperança, a segurança que foi interrompida na última eleição. Tem a segurança de muitos líderes fortes a nível nacional e estadual. E é o único partido de oposição no Brasil — diz Cherini.
No caso do Republicanos, o deputado federal Carlos Gomes, que comanda o partido no Rio Grande do Sul, credita o crescimento à proximidade entre os líderes da sigla e as representações municipais.
— Somado a isso, temos um alinhamento político equilibrado, que permite dialogar sempre com todas as forças e pessoas, inclusive as que não são da política, mas que pretendem fazer parte — salienta Gomes.
Em cinco anos, PDT foi quem mais encolheu
A análise dos dados disponibilizados pelo TSE demonstra que, no geral, os partidos políticos vêm diminuindo de tamanho no Rio Grande do Sul, sobretudo os mais tradicionais.
Considerando as 10 siglas mais numerosas, o PDT é o partido que mais reduziu sua dimensão nos últimos cinco anos, perdendo quase 45 mil filiados entre junho de 2018 e junho de 2023, uma queda de 16,8%.
Com isso, a legenda perdeu o status de ser o partido mais numeroso do Rio Grande do Sul para o MDB, que também encolheu, mas em menor proporção. Os emedebistas perderam 33 mil integrantes (-12,7%).
Proporcionalmente, também tiveram reduções expressivas o União Brasil (-15,6%), se computados os filiados ao DEM e ao PSL há cinco anos, e o PTB (-13,3%).
Presidente estadual do PDT, Ciro Simoni avalia que a legenda foi prejudicada pelo ambiente de polarização política que tomou conta no país nos últimos anos:
— Essa radicalização acaba criando, em um partido como o nosso, um ambiente difícil de contentar a todos. Nós ficamos de fora dessa polarização, e alguns que estão mais na extrema-esquerda e outros na extrema-direita acabaram saindo.
O professor Augusto Neftali de Oliveira, da PUCRS, explica que os trabalhistas têm um histórico de força no Estado, a partir de figuras como os ex-governadores Leonel Brizola e Alceu Collares, mas foi afetado ao longo do tempo pelo crescimento do PT no campo da esquerda.
— O PDT tem um estoque de apoio histórico, de pessoas que se filiaram nos últimos 30 anos, mas teve muitos desafios ao longo do tempo, inclusive pela ascensão do PT. O PDT acabou perdendo apoio de setores urbanos, de trabalhadores e muitos políticos acabaram saindo do partido e migrando ao PT — avalia.
Na outra ponta do ranking, o Republicanos foi o que mais cresceu (36,8%), ganhando mais de 8 mil filiados no período. Já o PL agregou 1,9 mil filiados no período.
— Todos os anos nós lançamos uma edição do "Filia 10", que percorre todos os municípios em que temos comissão executiva. Esse programa traz para o partido pessoas que podem colaborar com ideias ou até concorrer a prefeito, vice e vereador — justifica o presidente do Republicanos, Carlos Gomes.
Atualmente, conforme o TSE, 1.286.656 gaúchos fazem parte de algum partido político, o que representa 15% do eleitorado estadual.