O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o relacionamento com os países africanos lusófonos (cuja língua oficial é o português) voltará a ser prioridade para o Brasil. Lula teve encontro, nesta terça-feira (2), em Brasília, com primeiro-ministro da República de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, e disse acreditar na cooperação sul-sul (entre países em desenvolvimento) solidária, “com benefícios mútuos e baseada em experiências compartilhadas”.
— O Brasil aposta na África não só porque tem uma dívida histórica com esse continente irmão, mas também porque vemos na África um futuro extraordinário com seu 1,2 bilhão de habitantes e seu imenso e rico território — disse durante o encontro, no Palácio do Itamaraty.
Em julho, Lula deve ir à cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em São Tomé e Príncipe, e em agosto, à cúpula do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O presidente lembrou que, em seus dois primeiros mandados, foi ao continente africano em 12 ocasiões, quando passou por 21 países.
Na quarta-feira (3), o primeiro-ministro Correia e Silva participa do maior evento de tecnologia do mundo, o Web Summit, e, para Lula, isso vai permitir a identificação de novas áreas de cooperação a serem exploradas em setores de ponta.
— A economia digital e as chamadas startups têm enorme potencial de transformação de nossa economia de geração de emprego e renda nas cidades e no campo — declarou o presidente.
Brasil e Cabo Verde estabeleceram relações diplomáticas em 1975. Desde a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica, em 1977, o país tem sido beneficiado por projetos desenvolvidos em parceria com instituições brasileiras, em áreas como saúde, educação, agropecuária e agências reguladoras.
Durante discurso nesta terça, Lula destacou as parcerias na educação. Cabo Verde tem aproveitado as oportunidades oferecidas pelos programas de graduação e pós-graduação e enviado anualmente centenas de estudantes ao Brasil. Diplomatas e militares do país africano também têm frequentado tradicionalmente cursos de formação no Brasil.
O Brasil também contribuiu para a criação da Universidade de Cabo Verde, em 2004.
— Com seus 18 anos de funcionamento, ela tem representado importante opção para o Ensino Superior dos cabos verdianos que já não necessitam buscar alternativas somente no Exterior — pontuou Lula.
Outras iniciativas bilaterais importantes estão em curso em assistência materna infantil, coleta eletrônica de dados para pesquisas populacionais e solidariedade animal. O presidente também defendeu a inclusão social e o combate ao racismo como bases para a plena democracia.
— O Brasil ainda tem contas a acertar com seu passado de escravidão. Não transigiremos com racismo — ressaltou.
Ainda, Lula também quer dar atenção especial para mitigação dos impactos das mudanças climáticas em Cabo Verde.
— Os efeitos da mudança do clima representam ameaças a todos e seus impactos são particularmente perversos nos pequenos estados insulares — destacou, sobre o país que é formado por um arquipélago de dez ilhas, na costa ocidental da África.
O Brasil é candidato a sediar a 30º edição da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025.