O retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro deve mobilizar a capital federal nesta quinta-feira (30). Após passar três meses nos Estados Unidos, para onde viajou em 30 de dezembro do ano passado, dois dias antes de deixar o Planalto, Bolsonaro desembarcou em Brasília por volta das 6h40min.
Cotado para capitanear o movimento de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro deve se reunir com lideranças do PL para definir estratégias. Do aeroporto, o político deve seguir para a sede do PL na capital federal, onde será recebido pela esposa, Michelle Bolsonaro e pelo presidente do partido, Valdemar da Costa Neto.
Grupos de todo o país se organizaram pelas redes sociais e por aplicativos de mensagens para ir até Brasília recepcionar o ex-presidente. Parlamentares de direita, inclusive gaúchos, também acompanharão a chegada de Bolsonaro ao país.
— A vinda do Bolsonaro vai ser um boom, uma festa muito grande. A população vai para o aeroporto. Vai ser mais ou menos como na eleição — projeta o deputado federal Giovani Cherini, presidente do PL gaúcho.
Aliado de primeira hora do ex-presidente, o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS) conta que conversou com Bolsonaro na última segunda-feira (27) e ouviu do ex-presidente a garantia de que não haverá nenhuma motociata após o desembarque, como chegaram a cogitar apoiadores.
— Ele volta para ter uma vida comum, de ex-presidente. Terá um papel político no PL, de divulgação das pautas conservadoras Brasil afora — projeta Sanderson.
Por enquanto, não há nenhum evento previsto com a participação de Bolsonaro ainda na quinta-feira, após o desembarque. Há, entretanto, a expectativa de que o ex-presidente participe à noite da posse da deputada federal Bia Kicis, uma de suas aliadas, enquanto presidente do PL no Distrito Federal.
Esquema de segurança
A Secretaria de Segurança Pública do DF montou um esquema de segurança reforçado para o desembarque. Há previsão de que milhares de pessoas, entre políticos e apoiadores, acompanhem a chegada do ex-presidente.
Com o objetivo de evitar que episódios violentos como os atos golpistas de 8 de janeiro se repitam, Bolsonaro deve deixar o aeroporto por uma saída alternativa. A medida teria desagradado o ex-presidente e alguns de seus aliados, que esperavam que ele pudesse passar pelo saguão e ter contato com os apoiadores que prometem recebê-lo no local.
A secretaria do DF também não pretende permitir que o ex-presidente faça desfile em carro aberto, como chegou a ser cogitado por aliados de Bolsonaro. O secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, sustentou que ações do tipo infringem o código de trânsito e não serão permitidas pelo Detran.
O diretor da PF Cezar Luiz Busto afirmou que a orientação vigente na corporação até o momento é de que Jair Bolsonaro faça o desembarque por uma área restrita do Aeroporto Juscelino Kubitschek para evitar que apoiadores se aglomerem no saguão.
— O determinado por enquanto é que não sairá pelo saguão. Nós decidimos em reunião que não é viável o seu desembarque pelo saguão normal — disse.
Cenário político
Bolsonaro retorna ao país no momento em que Lula enfrenta dificuldade para formar a sua base no Congresso, sofre críticas por falas sobre o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil) e pressiona o Banco Central pela queda da taxa básica de juro. Aliados do ex-presidente acreditam que ele poderá unificar a oposição a Lula, mantendo coeso o grupo conservador que o apoiou em 2022.
No entanto, o momento também não é favorável para o ex-presidente que protagonizou recentemente o escândalo das joias da Arábia Saudita. A PF marcou para 5 de abril, quinta-feira da semana que vem, o depoimento de Bolsonaro, no inquérito que trata da entrada ilegal de joias no Brasil.
Nesta terça-feira (28), o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que Bolsonaro recebeu da Arábia Saudita um terceiro conjunto de joias, em outubro de 2019, e levou consigo após o fim do mandato. Segundo a reportagem, as joias foram entregues em mãos ao próprio ex-presidente, quando esteve com sua comitiva em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita.
Em entrevista à Record TV veiculada na quinta-feira (23), Bolsonaro disse que não cometeu irregularidades ao receber da Arábia Saudita um estojo que continha um relógio com pulseira de couro, um par de abotoaduras, uma caneta, um anel e um masbaha (rosário islâmico). O ex-presidente disse que não tinha intenção de "sumir" com os materiais e que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ficou "sabendo pela imprensa" da existência de um segundo conjunto de joias, que foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos (SP), que seria destinado a ela.
— Nosso ministro recebeu duas caixas de presente. Uma ficou retida na alfândega, a outra foi para presente. Eu só tomei conhecimento disso um ano depois. A minha esposa tomou conhecimento pela imprensa. Ela não tem nada a ver com isso. A caixa que seria para ela, está na Receita. A minha, desde o primeiro momento falei que está à disposição — disse.
— Tanto é que tem uma liminar do ministro Augusto Nardes, do TCU, que caiu agora, de que o material não poderia vender. Desde o primeiro momento não existe a intenção de sumir.