O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou, nesta quarta-feira (22), portaria criando grupo de trabalho para propor estratégias de combate ao discurso de ódio e ao extremismo. Presidido por Manuela D'Ávila, a equipe terá 24 integrantes da sociedade civil e cinco do ministério.
Os membros não serão remunerados e a participação será considerada prestação de serviço público relevante. Os trabalhos têm prazo de 180 dias, podendo ser prorrogado. O grupo tem como função a realização de estudos e a proposição de políticas públicas de direitos humanos contra o discurso de ódio, além de assessorar o ministro Silvio Almeida.
Além da escritora e ex-deputada federal pelo PC do B, estão no GT o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal, a jornalista da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello, o professor de Relações Internacionais Guilherme Casarões e a antropóloga Isabela Kalil, que estuda a ascensão da extrema direita e teorias conspiratórias.
Hallal, que coordenou a pesquisa nacional Epicovid, manteve postura crítica em relação às ações do Ministério da Saúde no período da pandemia. O epidemiologista destaca que o Brasil precisa discutir a disseminação de discursos extremistas, que causam impactos diretos nas pessoas ameaçadas. Também considera que os efeitos são ainda mais devastadores para quem é atingido pelas notícias falsas, a exemplo da defesa do uso de medicamentos sem comprovação científica para o tratamento de doenças como a covid-19.
O ex-reitor alega perseguições por seu posicionamento, motivo pelo qual decidiu se mudar para os Estados Unidos em setembro de 2021.
— Acho que o momento mais pesado para mim foi quando um familiar próximo, na mesma manhã em que se soube do assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (Marcelo Arruda, morto pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho), escreveu em mensagem no WhatsApp: "Podia ter sido tu". Ele viu a notícia de uma assassinato político e pensou que poderia ter acontecido comigo, um familiar próximo. É uma dimensão do quanto esses discursos de ódio impactam e destroem vidas.
A gaúcha Rosane Pinheiro-Machado, que em seu último livro, Amanhã Vai Ser Maior, analisa a crise brasileira, a ascensão da extrema-direita e as possíveis rotas de fuga, também participa do grupo. A antropóloga pesquisa os impactos do autoritarismo crescente no Brasil.
Uma das jornalistas mais perseguidas pelo governo Bolsonaro, Patrícia Campos Mello, relata em A Máquina do Ódio a campanha de difamação pela qual passou, mas também avança com as discussões internacionais acerca das campanhas de ódio e perseguição a jornalistas de todo o mundo.
O influenciador Felipe Neto também está entre os integrantes do GT. Além de ter sofrido ameaças, o youtuber foi alvo de ataques do ex-presidente e denunciado por corrupção de menores. A ação foi arquivada.
Manifestação nas redes sociais
Nas redes sociais, Manuela se manifestou sobre a escolha de seu nome para comandar as atividades. "Aceitei, me sentindo muito honrada e desafiada, o convite do Ministro @silviolual para presidir o Grupo de Trabalho para apresentação de estratégias de combate ao ódio e ao extremismo e para a proposição de políticas públicas em direitos humanos sobre o tema", escreveu.
"Estarei acompanhada por ativistas, pesquisadoras e estudiosos do tema, gente que tem muito a contribuir para que o Brasil se torne uma referência global de enfrentamento ao ódio, extremismo, intolerância e violência criadas nestes ambientes", completou.
Manuela diz ainda estar dedicando parte de sua vida ao tema, destacando pesquisa de doutorado relacionada ao assunto. "As razões desse esforço são óbvias: não é fácil ser vítima dos ataques dessas máquinas que constroem e distribuem ódio e intolerância", escreveu em outro trecho da mensagem.
"A missão que recebi me recoloca na linha de frente do combate ao ódio. Obrigada, Silvio. É uma alegria contribuir com o governo @LulaOficial através do Ministério de DDHH comandando por você", conclui.