Os atos golpistas registrados em Brasília no último domingo (8), quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, foram tema do quadro "Mais Vozes", dentro do programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (11). Líderes de entidades e representantes da sociedade civil discutiram sobre como fazer para que grupos políticos de diferentes espectros ideológicos convivam em divergência pacífica.
Foram ouvidos o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul (OAB/RS), Leonardo Lamachia; o presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Rodrigo Sousa Costa; o publicitário Fábio Bernardi; o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari; o diretor-presidente da Superpan, Arildo Bennech Oliveira; o cineasta Jorge Furtado; o presidente da Federarroz, Alexandre Velho; e o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Arcione Piva.
Para Lamachia, os fatos ocorridos na capital federal são "absolutamente inaceitáveis", e os responsáveis devem ser "punidos na forma da lei". O presidente da OAB-RS defendeu, ainda, serenidade das lideranças nacionais no momento.
— O momento exige firmeza em relação aos fatos, mas serenidade e equilíbrio das lideranças para que toda a população passe a agir com respeito e tolerância. A sinalização de equilíbrio, ponderação e respeito ao estado de direito deve vir das lideranças públicas, dos três poderes e também dos derrotados — afirmou.
Já o presidente da Federarroz, Alexandre Velho, apontou que a instituição, independentemente da orientação ideológica do governo, tem como foco "avançar nas pautas do setor arrozeiro de maneira ordeira e democrática".
— Um quadro aceitável de convivência entre os grupos políticos se dá através de conversas, buscando sempre o bem maior. Buscando chegar a um consenso com relação aos assuntos importantes. E é muito importante para o agronegócio ter paz no campo — disse.
Jorge Furtado classificou os atos de domingo como "trágicos". O cineasta, no entanto, considerou positiva a reação dos atores políticos do país na união para lidar com o caso:
— Eu não me lembro dessa imagem, com o presidente e todos os líderes de todos os poderes juntos, conversando, pensando em o que fazer para dirigir o país. Que é o que nós precisamos. (...) O lado positivo, eu acho, é que esses acontecimentos trágicos do domingo podem ter fortalecido a ideia de que fora da democracia não há solução.
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Alscari apontou que o entendimento do sindicato é "que a democracia é um bem precioso e deve a ser preservado".
— Quem perdeu tem que se acomodar a disputar eleição dentro das regras estabelecidas pela Constituição e disputar novamente daqui a quatro anos. A radicalidade, independente de onde venha, nunca faz bem para a democracia, nunca fará bem para o Brasil, para os trabalhadores e para os empresários. Vivemos embaixo do mesmo céu — apontou.
Já Bernardi ponderou que é preciso resgatar o debate público e "reconstituir o poder real" de palavras como liberdade, comunismo, liberalismo, família e pátria — que, segundo ele, "viraram palavras gordas, onde cabe tudo dentro".
— Os agentes políticos, econômicos, sociais, culturais, acadêmicos precisam fazer da reconstrução do debate público a nossa principal agenda nacional hoje do país. Porque, sem isso, qualquer outra agenda, qualquer outra ação já vai nascer contaminada. Já nasce hoje contaminada por narrativas ideológicas e bolhas digitais — pontuou.
Representando a Federasul, Sousa Costa afirmou que a percepção da entidade é de que os "excessos acirram os ânimos".
— E falamos aqui tanto dos excessos de grupos políticos, quanto dos excessos de órgãos de Estado. Incluindo uma extrapolação na interpretação das leis — disse.
Já o diretor-presidente da Superpan, Arildo Bennech Oliveira, colocou a posição do Sindicato das Indústrias de Panificação, Confeitaria, Massas e Biscoitos do Rio Grande do Sul, que é contrária a qualquer manifestação violenta:
— Somos a favor de uma direção pacífica, com reivindicação, com pautas justas e que sejam reconhecidas por aqueles que determinam o governo. Temos que ter paciência, a democracia é um bem que o Brasil adquiriu e que não pode abrir mão. E nós temos que preservar essa democracia o máximo possível para que possamos ser um país mais maduro e cada vez mais melhor.
E o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Arcione Piva, afirmou que a entidade está acompanhando os reflexos dos fatos ocorridos em Brasília, e que "repudiam atos violentos e antidemocráticos" no último domingo:
— Esses atos, antidemocráticos e violentos, são tudo que vai na contramão do que o Sindilojas de Porto Alegre busca e preza no contato com a sociedade.