A deputada federal e presidente do Podemos, Renata Abreu, instaurou um processo disciplinar para apurar a situação do deputado estadual Arthur do Val, de São Paulo, após o vazamento de áudios. Nas gravações, o parlamentar afirma que as ucranianas são “fáceis porque são pobres”. Conhecido como Mamãe Falei, ele viajou à Ucrânia com o objetivo de auxiliar o país após a invasão da Rússia, levando doações.
Os áudios foram divulgados na última sexta-feira (4) pelo colunista Igor Gadelha, do jornal Metrópoles. Em uma série de comentários machistas e sexistas sobre as refugiadas ucranianas, Arthur destacou aos colegas de Movimento Brasil Livre (MBL), em um grupo privado, que a fila de baladas brasileiras “não chega aos pés da fila de refugiados aqui”.
— Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de "mina" bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila sei lá, de 200 metros, só deusa — diz o deputado. —Assim que essa guerra passar, eu vou voltar para cá — completou depois, entre outros comentários, dizendo que não teria "pegado ninguém".
Em nota, a presidente do Podemos descreveu as declarações de Arthur como "gravíssimas" e "inaceitáveis": "Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra".
Renata complementou o comunicado com o posicionamento do partido: "O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos. Até este momento o partido não havia conseguido contato com o deputado, que estava em voo".
Ao blog de Andréia Sadi, do G1, a deputada contou que será realizada uma reunião extraordinária da executiva do partido, ainda sem data e hora. Esse processo poderia levar à expulsão de Arthur, que é pré-candidato ao governo de São Paulo. Porém, o deputado será ouvido.
Ao desembarcar no Brasil neste sábado (5), Arthur lamentou as declarações justificando que ocorreram "num momento de empolgação". Em entrevista à imprensa que o aguardava no aeroporto de Guarulhos (SP), ele reconheceu o erro, alegou que os áudios não refletem o que pensa e pediu que o contexto fosse compreendido:
— Uma coisa é o Arthur que foi lá, fez a missão e saiu. A outra é o Arthur, que já tinha saído, que mandou um áudio num grupo privado, dos amigos dele, de forma errada, descabida. Não foi a melhor das posturas, é nítido.
Repercussão
A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) anunciou que denunciará o deputado ao Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Na representação, ela alega quebra de decoro parlamentar e pede a perda do mandato do deputado estadual. O PT também entrou com uma representação contra Arthur na Alesp por quebra de decoro parlamentar. Ainda, o movimento social UneAfro Brasil pediu ao Ministério Público investigação sobre o parlamentar dizendo que ele "incentiva o turismo sexual".
O pré-candidato à presidência, Sergio Moro (Podemos), rompeu com o deputado. Na última quarta-feira (2), o ex-juiz federal havia manifestado apoio à ida do colega de partido à Ucrânia.
"Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto", publicou Moro no Twitter.
"As declarações são incompatíveis com qualquer homem público. Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos — tanto no campo público quanto na vida privada. Portanto, jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime. Meu respeito incondicional às mulheres em geral e às ucranianas, em especial, porque além de todos os problemas diários enfrentados, precisam conviver com os horrores da guerra. Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige", acrescentou em uma série de tweets.
Damares Alves, Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, classificou o ato do deputado como "nojento", "baixo" e "sujo". "Não ficará sem resposta! Este comportamento não é compatível com a de um representante do povo. Pediremos sua cassação imediata!", escreveu nas redes sociais.
Pelo Twitter, a ex-deputada federal Manuela D'Ávila acusou: "A essência dele (e de sua turma) está ali naquele áudio barato: "ódio aos pobres e as mulheres, a demagogia de ir a um país em guerra dizendo que leva doações enquanto parece fazer turismo sexual".
Fora do campo político, outra perda: a namorada do deputado, Giulia Blagitz, anunciou via Instagram que a relação entre os dois acabou.