O Rio Grande do Sul registrou, na última década, uma diminuição de 61,2% no número de eleitores entre 16 e 17 anos, faixa etária em que o voto é facultativo. O interesse dos adolescentes pelas eleições entrou em queda livre nos cinco pleitos realizados no Brasil nesse período, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consultados por GZH.
Em fevereiro de 2012, 86.982 pessoas nessa faixa etária estavam cadastrados para votar no Estado. Dez anos depois, em fevereiro de 2022, o número caiu para 33.697 (veja o gráfico abaixo). No país, o cenário não é diferente: a queda foi de 55% em 10 anos.
A quantidade de brasileiros aptos a votar nas próximas eleições, em outubro, só será divulgada pelo TSE no dia 11 de julho. Porém, as estatísticas em cada início de ano são relevantes para avaliar se, de fato, há procura para a retirada do primeiro título de eleitor.
O processo, chamado de alistamento eleitoral, tem um prazo para ser realizado em ano de pleito. Em 2022, a data-limite é 4 de maio.
Por conta desse limite, há dados mais otimistas: em janeiro e fevereiro, houve aumento de 40% no eleitorado jovem no Rio Grande do Sul (33.697), se comparado com os dados de dezembro de 2021 (24.003).
Isabela Eberhardt Pereira, 15 anos, ajudou a aumentar as estatísticas após fazer o alistamento eleitoral em janeiro. A estudante de Porto Alegre fará 16 anos antes do primeiro turno, marcado para 2 de outubro, e, com isso, já poderá votar nas próximas eleições.
— Eu quero muito votar nas eleições deste ano, até por isso fui atrás para tirar meu título logo cedo. Eu acho que é muito importante que a gente usufrua desse direito, para que nossa voz também seja ouvida. É uma ação bem simples e que carrega um significado muito grande — contou.
É tudo online
Um dos avanços provocados pela pandemia da covid-19 foi a possibilidade de fazer e acompanhar todo o processo de alistamento de forma online. Foi isso que a Isabela fez.
Mas também é possível ir a um cartório eleitoral, para realizar o processo presencialmente. É o caso de Isabelly Batista Padia, 17 anos, que tentou usar os canais digitais, porém enfrentou dificuldades (confira o passo a passo abaixo) — o que não vai impedi-la de votar pela primeira vez em 2022.
— Eu quero muito tirar o título de eleitor. Vou fazer na semana que vem. Tenho umas amigas que já tiraram, mas a maior parte não tem e nem sei se sabe que tem uma data-limite para conseguir tirar — disse.
Especialistas acreditam que uma certa descrença na política vem afastando os jovens do processo eleitoral. O motivo seria a polarização partidária e ideológica que ganhou corpo no Brasil nos últimos anos.
Murilo Palaver Hoff Pereira, estudante de 15 anos e morador de Gravataí, afirma que conversa com os amigos sobre política, mas que não gosta de focar em determinados partidos e candidatos. Para ele, o diálogo é a chave para uma discussão saudável sobre o tema.
— Sempre fui ligado em política, assisti a debates com meu pai. Quero muito poder votar, manifestar minha opinião em forma de voto, acho superimportante e válido. Todo mundo que tem a minha idade, que tem essa opção de votar, deveria votar — afirmou.
Rolê das eleições
Na tentativa de informar e mobilizar o público entre 15 e 18 anos a votar nas próximas eleições, o TSE realizou uma mobilização em um espaço bastante explorado por essa faixa etária: as redes sociais.
Na semana passada, no Twitter, a hashtag #RolêdasEleições apareceu em mais de 6,8 mil tuítes, alcançando as telas de mais de 88 milhões de pessoas. Celebridades, atores, bandas de música e até times de futebol entraram na campanha.
— Aquele que não vota, por qualquer razão, deixa os outros decidirem por ele. Tire o título, vote e ajude a garantir a democracia no Brasil. Vamos juntos, uma vez mais, fazer eleições limpas e seguras — afirmou o presidente do TSE, Edson Fachin, na sessão plenária na última terça-feira (15).
Saiba mais
Confira perguntas e respostas sobre o alistamento eleitoral:
Quem pode tirar o título de eleitor neste ano?
- Adolescentes de 16 e 17 anos completos
- Adolescentes de 15 anos que fazem aniversário antes de 2 de outubro, data do primeiro turno
- Pessoas acima dos 18 anos que ainda não tenham o documento (a partir dessa idade, o voto é obrigatório)
Como fazer o primeiro título?
Por meio do site do TSE ou em um Cartório Eleitoral. Confira o passo a passo neste vídeo:
Após fazer a solicitação, a Justiça Eleitoral analisa o pedido e o processo também pode ser acompanhado pela internet. Para isso, basta acessar a guia "Acompanhar Requerimento" e informar o número do protocolo gerado na primeira fase do atendimento.
Após o processamento dos dados, se não houver qualquer pendência, a versão digital do documento pode ser acessada pelo aplicativo e-Título, disponível par smartphones — o uso do título em papel não é mais necessário.
Quais documentos preciso para tirar o primeiro título?
Comprovante de endereço atualizado, documento de identificação com foto (como RG) e certificado de quitação do serviço militar (para homens entre 18 e 45 anos).
Caso o processo seja feito de forma online, é necessário tirar uma foto no estilo selfie segurando o documento de identificação com foto ao lado do rosto.
Qual o prazo para tirar o título?
A data-limite é 4 de maio. O prazo também vale para quem precisa regularizar a situação na Justiça Eleitoral, caso não tenha votado em eleições anteriores e não tenha justificado, ou deseje fazer a transferência do domicílio eleitoral.
Tenho 16 ou 17 anos e tirei o título. Sou obrigado a votar?
Não. Para essa faixa etária, o voto é facultativo no Brasil, assim como para analfabetos e pessoas acima dos 70 anos.
Ainda não tirei o título. Quais as consequências?
Além de permitir o comparecimento nas urnas e, em caso de voto obrigatório, ficar em dia com a Justiça Eleitoral, o título de eleitor é um documento cobrado para fazer matrículas em universidades, assumir cargos públicos, na emissão de documentos como RG, passaporte e carteira de trabalho, para declaração do Imposto de Renda, entre outros procedimentos.