O Rio Grande do Sul vive a primeira semana do novo modelo de gestão do combate à pandemia. Em vez de bandeiras, o governo gaúcho passa agora a emitir os chamados 3As: aviso, alerta e ação (veja mais abaixo).
Neste modelo, que termina com restrições de horários, as prefeituras têm mais autonomia para definir seus protocolos, mas serão chamadas a agir caso recebam uma indicação de que a situação da pandemia está piorando — o que exigiria novas medidas.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o governador Eduardo Leite explicou que a ideia é que tanto os técnicos do Estado quanto os das prefeituras debatam as medidas e necessidades de cada região, já que conhecem as necessidades locais. Quando receberem um alerta, no entanto, deverão deixar claro o que será feito para conter a pandemia.
— Teremos que ver cada região especificamente. O alerta pode exigir medidas mais duras o possível, ou pode ser uma situação que exija medidas mais rígidas, porém não o fechamento total de atividades. Então a situação é de acordo com cada uma das regiões. Mas tem que haver, no mínimo, endurecimento da fiscalização, cumprimento das medidas, eventualmente um toque de recolher. Teremos que identificar o que na região está ocasionando mais possibilidade de aglomeração de pessoas e entender as medidas que melhor se aplicam a cada região — disse, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade na manhã desta segunda-feira (17).
Pelo modelo, o Estado analisa as providências sugeridas pelas associações regionais. Se forem suficientes, são autorizadas; se não forem, busca-se o diálogo para um consenso sobre o melhor plano possível. No entanto, se as cidades não adotarem as medidas necessárias, o Piratini pode estabelecer um decreto específico para cada região — uma espécie de "última instância".
— Precede à intervenção do Estado todo um esforço de articulação para adesão às medidas. Agora, se for necessário, nós não fugiremos à nossa responsabilidade de, sempre priorizando a saúde e a vida, buscar estabelecer medidas que sejam necessárias para proteger diante de uma situação em que se apresenta maior circulação do vírus.
Nesta segunda-feira, o grupo de trabalho Saúde recomendará ao Gabinete de Crise que sejam emitidos "alertas" às regiões com sede em Santo Ângelo, Cruz Alta, Ijuí, Passo Fundo e Cachoeira do Sul — o que deve ser confirmado ao longo do dia.
Ocupação de leitos e número de casos
No novo modelo, há protocolos gerais que devem ser adotados no dia a dia, como uso de máscara e distanciamento. O governo emitirá indicativos diários às regiões, conforme análise dos dados sobre circulação do coronavírus.
Quando detectar uma tendência, o grupo de trabalho da Saúde emitirá um aviso para a equipe técnica da região, que deverá redobrar atenção, mas não fica obrigada a adotar novas medidas. Já o alerta será emitido quando houver uma tendência grave — o GT Saúde recomenda, e o Gabinete de Crise decide se o alerta será emitido ou não.
Se isso ocorrer, a região terá 48 horas para responder sobre o quadro regional da pandemia e apresentar uma proposta de ações. O plano será avaliado pelo Gabinete de Crise, que pode considerá-lo adequado ou sugerir alternativas. Se não houver consenso, o Estado pode fazer um decreto específico para a região.
Leite adiantou os três indicadores que terão peso maior na avaliação feita em cada região: ocupação de leitos clínicos, ocupação de leitos de UTI e número de casos confirmados em cada região.
— Se analisa especialmente as curvas dos gráficos de ocupação de leitos, tanto clínicos quanto de UTI. Os leitos de UTI são indicador mais tardio, e os clínicos um pouco mais cedo acusam se a nova onda está acontecendo. E, claro, o diagnóstico, os exames de casos de coronavírus. Numa análise de conjunto desses três indicadores, principalmente, reside maior atenção do que está acontecendo. Mas também se analisa óbito, análise comparativa com outras regiões.
O governador também reforça que há capacidade ampla de testagem, e que a população deve procurar realizar o exame quando há sintomas gripais. Além disso, o Estado incentiva a busca ativa por pessoas que tiveram contato com quem teve a doença confirmada e espera que a população denuncie casos de aglomerações.
Nova onda no RS
Questionado sobre a situação geral do Estado e sobre a possibilidade de se registrar um aumento brusco de casos confirmados e de pessoas internadas com covid-19, Leite destacou que o RS não está livre de vivenciar uma nova onda, mesmo sendo o que mais vacina no Brasil. Ainda assim, foi cauteloso:
— É cedo para dizer que haja uma nova onda vindo aí. Há, sem dúvida nenhuma, uma situação que preocupa, que merece a atenção de todos os gestores, em função do que se observa em determinadas regiões, de aumento de casos E aumento de internações, ainda que a tendência seja recente.
O governador também falou sobre a dificuldade de o Estado adquirir vacinas, já que os grandes laboratórios preferem negociar com governos nacionais, e não estaduais. Ainda assim, Leite afirmou que tem interesse em adquirir as doses da CoronaVac não negociadas com o governo federal, ou ainda as produzidas pelo próprio Instituto Butantan — a chamada ButanVac, que ainda está em fase de testes.