O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), passará a morar, pelo menos temporariamente, no Palácio dos Bandeirantes por causa dos constantes protestos em frente à casa dele, no Jardim Europa (zona oeste da capital paulista), e das ameaças que vem recebendo.
A situação se agravou após o endurecimento das restrições à circulação de pessoas no Estado, que enfrenta o pior momento da pandemia da covid-19. Doria, atualmente um dos principais adversários do presidente Jair Bolsonaro, tem acionado a polícia por causa das ameaças, e inquéritos já foram instaurados.
"Meu desprezo por estes extremistas que ameaçam a mim, a minha família e ameaçam pessoas que defendem a vida. É uma decisão difícil, mas necessária nesse momento de muita intolerância ao pensamento contraditório, de belicismo verborrágico e de cegueira ideológica", diz trecho do comunicado assinado por Doria divulgado na segunda-feira (29).
Desde sua posse, em janeiro de 2019, Doria vinha utilizando a ala residencial do Bandeirantes apenas para despachos e reuniões de trabalho. Mas, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, os manifestantes, que se revezam em turnos, tiraram o sossego do governador e, principalmente, de seus familiares, limitando visitas inclusive nos fins de semana.
"O negacionismo na pandemia deixou de ser um delírio das redes sociais, provocado pela paixão política, e está se tornando algo muito mais perigoso para a vida, a ciência e a democracia: uma seita intolerante e autoritária", afirma o comunicado do governador de São Paulo.
Tempos obscuros
A nota diz ainda que "o fanatismo ideológico ignora a racionalidade e a legalidade" e "tem ultrapassado os limites do embate político e do questionamento técnico com ameaças e agressivas manifestações, perturbando o bairro e vizinhos".
"Diante do radicalismo, decidi me mudar para o Palácio dos Bandeirantes. Regredimos a tempos obscuros em que a integridade física daqueles que defendem a vida e a democracia está sob ameaça. Vivi esse mesmo sentimento quando acompanhei meu pai no exílio. Dessa vez, no entanto, não haverá exílio, nem ditadura. Haverá ciência, vacinas, vidas salvas e democracia", afirma o comunicado.
No início de março, após a volta da fase vermelha no Estado — a mais restritiva —, Doria registrou queixa por ameaça de morte. No dia 19, um grupo de cerca de 50 manifestantes tentou fazer um protesto em frente à casa do governador, mas não conseguiu chegar ao local porque a Polícia Militar, informada do ato, bloqueou várias ruas na região. O grupo levava caixas de som tocando músicas a favor de Bolsonaro e bandeiras do Brasil.