Relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostra troca de mensagens inéditas entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. A conversa, por telefone, indica que o presidente pressionou o ex-juiz da Lava-Jato após se sentir contrariado com uma declaração de Moro à imprensa.
O relatório da PF analisou conversas dos dois, trocadas um dia antes de o ex-ministro anunciar sua demissão e acusar o presidente de interferir politicamente no comando da corporação para obter dados sigilosos.
A conversa ocorreu no dia 12 de abril, quando Bolsonaro encaminhou notícia do jornal Valor Econômico na qual Moro diz que a polícia poderia prender quem descumprisse o distanciamento social na quarentena.
"Se esta matéria for verdadeira, todos os ministros, caso queira contrariar o presidente, pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa", escreveu Bolsonaro a Moro.
O então ministro respondeu: "O que existe é o artigo 268 do Código Penal. Não falei com imprensa".
O artigo 268 considera crime punível com detenção a quem infringir determinação do poder público que se destina a impedir propagação de doença contagiosa.
Bolsonaro e Moro são investigados em inquérito aberto em abril no STF para apurar as acusações do ex-ministro sobre suposta interferência do presidente na PF. O Palácio do Planalto nega.
Na quarta-feira (2), a PF pediu a prorrogação do inquérito por mais 30 dias. O caso está sendo conduzido pelo ministro Celso de Mello, do STF, que está de licença médica. Uma das diligências que devem ser realizadas é o depoimento de Bolsonaro, ainda sem data e forma para ocorrer.