A participação do presidente da República Jair Bolsonaro em manifestações que o apoiam e criticam o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) tem gerado repercussão. No domingo (3), Bolsonaro afirmou querer um "governo sem interferência". Em entrevista ao Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta segunda-feira (4), o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que há uma disputa de poder entre os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Ao longo da entrevista, afirmou duas vezes que o presidente é o responsável por escolher seus auxiliares.
— Hoje existe uma questão de disputa de poder entre os diferentes poderes, existe uma pressão muito grande em cima do poder Executivo. Eu, na minha opinião, julgo que cada um tem de navegar dentro dos limites da sua responsabilidade. Então os casos mais recentes aí, que foi a nomeação do diretor-geral da Polícia Federal, a questão dos diplomatas venezuelanos, são decisões que são do presidente da República. É responsabilidade dele e decisão dele escolher seus auxiliares, assim como chefe de Estado ele é o responsável pela política externa do país. Então, acho que os poderes têm de buscar se harmonizar mais e buscar entender o limite da responsabilidade de cada um — disse.
Na última quarta-feira (29), o STF suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal, a pedido do PDT. Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes citou as alegações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro que, ao sair do cargo, alegou que o presidente tentava interferir na PF. Questionado se considerava este um exemplo de interferência no poder Executivo, o vice-presidente respondeu:
— A questão da decisão do ministro Alexandre de Moraes, grande parte dela baseada na decisão do ministro Celso de Mello em relação ao inquérito que tá correndo aí por solicitação da Procuradoria-Geral da República. Eu, na minha visão, julgo que, volto a dizer: é responsabilidade do presidente da República escolher seus auxiliares, quer a gente goste ou não — disse.
— Eu, particularmente, não conheço o novo diretor-geral da Polícia Federal. Só sei que ele tava atualmente na Agência Brasileira de Inteligência e que ele é ligado ao delegado Ramagem, que era a escolha inicial do presidente — afirmou.
Ouça, abaixo, a entrevista completa:
Manifestações
Em relação ao caráter antidemocrático das manifestações, Mourão disse não haver motivos para preocupação em relação à uma possível repressão militar.
— Não vejo motivo nenhum, em primeiro lugar porque, naquela manifestação, assim como tinha gente que pedia ou propugna ideias mais radicais e que no final das contas não param em pé, tinha uma maioria que tava pura e simplesmente para apoiar o governo do presidente Bolsonaro. Então, ela é uma manifestação que ela tem pessoas que professam, vamos dizer assim, diferentes versões do que é necessário, do que elas julgam necessário. E por outro lado, eu sempre digo, o presidente tem um compromisso com a democracia, ele tem um compromisso que ele jurou aí defender a Constituição e ele não vai ultrapassar esses limites, ele deixa isso bem claro. A gente tem de se balizar muto mais pelas ações do que muitas vezes pelas palavras que são ditas em um momento de maior exaltação — afirmou.
Forças Armadas
Em declaração transmitida em live em sua rede social, Bolsonaro afirmou:
— Temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, pela liberdade.
Questionado sobre o que o chefe do Executivo brasileiro quis dizer com isso, Mourão respondeu:
— Quando o presidente se refere ao apoio das Forças Armadas é o apoio institucional à pessoa dele como chefe de Estado e chefe de Governo, então é uma questão institucional — disse.
O vice-presidente afirmou também não concordar com a ideia de que o chefe do Executivo nacional utiliza sempre as Forças Armadas para se ancorar em um ato democrático, nem que ele passa a ideia de que a entidade é como um pai da nação.
— Não vejo dessa forma. Na realidade, o presidente teve 15 anos de vida dentro do Exército, é onde ele formou sua base inicial, apesar de depois ter permanecido 30 anos como político, e as Foças Armadas não tutelam o país de forma nenhuma. O que se discute muitas vezes é o que tá no artigo 142 da Constituição que é aquela velha questão da garantia dos poderes constitucionais. Se é algo que tem que ser debatido com profundidade, às vezes um ou outro jurista colocam isso em execução e é uma discussão que perpassa a sociedade. Agora, as Forças Armadas se consideram e sempre se considerarão como elementos do Estado brasileiro, e é dessa forma que elas agem — disse.
A solidão do comando
Mourão também ponderou que Bolsonaro vive a "solidão do comando":
— A gente fala da solidão do comando porque a decisão é solitária, né. É a isso que a gente se refere. O presidente é obrigado a tomar decisões diuturnamente. Ele convive muito bem com isso até porque ele escolheu, né. Pediu, você tem de arcar com as consequências, com a responsabilidade e com o peso de você ter que dirigir e governar um país das características e da amplitude do Brasil — disse.