BRASÍLIA, DF, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou, nesta terça-feira (28), o delegado Alexandre Ramagem, 48, para o comando da Polícia Federal. A troca na direção-geral da PF foi o estopim para o pedido de demissão do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro do Ministério da Justiça, na semana passada.
Segundo o agora ex-ministro, Bolsonaro queria trocar o diretor-geral da PF para ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência.
Neste sábado (25), a Folha de S.Paulo divulgou que, em inquérito sigiloso conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.
Ramagem era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e é homem de confiança do presidente e de seus filhos. Delegado de carreira da Polícia Federal, o delegado se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente.
Carlos Bolsonaro é um dos seus principais fiadores e esteve diretamente à frente da decisão que o levou ao comando da agência de inteligência em junho passado.
O aval do filho 02 foi conquistado durante a crise política que levou à saída do então ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Santos Cruz. Ramagem atuava como assessor especial da pasta e se manteve fiel à família. Santos Cruz caiu após ataques do chamado "gabinete do ódio" comandado por Carlos.
Neste domingo (26), o presidente respondeu a uma seguidora nas redes sociais que questionou a relação de amizade de Ramagem com os filhos. E daí? Antes de conhecer meus filhos eu conheci o Ramagem. Por isso, deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?, escreveu Bolsonaro.
Delegado da Polícia Federal desde 2005, Ramagem comandou, de 2013 a 2014, a Divisão de Administração de Recursos Humanos e a de Estudos, Legislações e Pareceres, de 2016 a 2017.
Atuou ainda na coordenação de grandes eventos realizados no país nos últimos anos, como a Conferência das Nações Unidas Rio+20 (2012), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada do Rio (2016).
Em 2017, Ramagem integrou a equipe responsável pela investigação e inteligência de polícia judiciária na Operação Lava Jato. Em uma das ações que comandou, a Operação Cadeia Velha, ocorreu a prisão de integrantes da cúpula da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Em 2018, antes de atuar na segurança de Bolsonaro, assumiu a Coordenação de Recursos Humanos da Polícia Federal, na condição de substituto. Após a eleição, em janeiro de 2019, foi para Secretaria de Governo e, de lá, para a Abin.
Foi Ramagem quem comandou a operação cujo desdobramento produziu o primeiro relatório sobre Fabrício Queiroz, suspeito de ser o operador da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Ramagem foi o responsável na PF pela Operação Cadeia Velha, que prendeu em novembro de 2017 três deputados estaduais da cúpula do MDB-RJ (Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi). Na ocasião, o delegado era o responsável por coordenar o trabalho da PF junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro foro no qual os deputados foram investigados.
A segunda fase dessa investigação foi a Furna da Onça, cujo início contou com o relatório federal que citava as movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão de Queiroz e outros 74 assessores de deputados da Assembleia.
Ramagem não atuou na Furna da Onça na PF e encerrou seu relatório sobre a Cadeia Velha em dezembro de 2017. O relatório federal de inteligência financeira que indicou a movimentação de Queiroz foi produzido e enviado aos órgãos de investigação em janeiro de 2018.
O novo diretor-geral da PF foi em abril para a Direção de Gestão de Pessoal, em Brasília. A PF não quis informar quando ele deixou de atuar no TRF-2. Segundo relatos ouvidos pela reportagem, ele não teve contato formal com o conteúdo da investigação da Furna da Onça.
No dia 29 de outubro, Ramagem assumiu a coordenação de segurança do então candidato Bolsonaro, após o presidente se desentender com o responsável por sua escolta.
Já Queiroz foi demitido em 15 de outubro, duas semanas antes do delegado ser integrado à equipe de campanha de Bolsonaro. Amigo do presidente há 34 anos, o ex-assessor foi demitido em meio ao segundo turno da disputa presidencial.
O senador Flávio Bolsonaro afirmou que o ex-assessor foi exonerado do cargo após 11 anos de serviço para cuidar de sua aposentadoria na Polícia Militar, obtida em novembro de 2018.