Em meio à crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro tem dado demonstrações de impaciência com seus apoiadores. As respostas ríspidas, antes reservadas apenas aos jornalistas, agora são dadas também a pessoas que integram a claque que costuma ir à portaria do Palácio da Alvorada para chamá-lo de mito, rezar por ele e também fazer pedidos.
Nesta quarta-feira (22), um senhor começou a falar pedindo que Bolsonaro desse atenção aos lotéricos do país. Bolsonaro logo interveio.
— O senhor não está acompanhando os lotéricos, então. Com todo o respeito. Nós convidamos vocês, demos uma cesta de vantagens sem vocês pedirem nada. O pessoal, 98% ficou satisfeito. Fecharam as lotéricas. Fiz um decreto, abri, 3 mil loterias fechadas. Então, não sei mais o que o senhor quer — disse o presidente.
Logo depois, foi chamado por um outro homem que pediu que o presidente gravasse vídeo de apoio a uma "maratona verde" de plantio de árvores em Londrina. Outra resposta ríspida. "Quando eu convido, estou presente. Não tem como", afirmou Bolsonaro, ao justificar a negativa ao apoiador.
Na segunda-feira, ao tentar minimizar as críticas que vinha recebendo pela participação em um ato pró-golpe militar, Bolsonaro foi ríspido com um apoiador que pedia o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Esquece esta conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia. Aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é a minha casa e a tua casa, então peço que, por favor, não se fale isso aqui — afirmou Bolsonaro.
Na quarta-feira passada, dia 15, Bolsonaro ouviu cobranças de apoiadores aglomerados e não escondeu seu incômodo.
— Pessoal, se eu parar aqui para ouvir cada um com um problema, não paro mais — disse.
Na manhã de 6 de abril, o presidente também perdeu a paciência com um homem que falava contra a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
— Chefe, o que o senhor quer, eu concordo, mas passa pelo Parlamento. O Parlamento negou várias vezes o que o senhor quer. Dá para entender que não é uma canetada minha? — disse o presidente, diante da insistência do apoiador.
Em algumas ocasiões, Bolsonaro também pediu rapidez a religiosos que anunciam que vão fazer alguma oração por ele.
Em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, depois de passarem pelo check point em que os veículos são revistados e antes de cruzarem o detector de metais e o equipamento de raio X, os visitantes são orientados a deixar em armários todos os seus objetos, com exceção de telefones celulares.
Cartas, sugestões de projetos de lei e bandeiras, por exemplo, não podem mais entrar na área reservada aos fãs de Bolsonaro. Durante alguns dias, o presidente também foi cobrado pela liberação do auxílio emergencial de R$ 600.
O humor de Bolsonaro com os militantes começou a mudar com o agravamento da crise do novo coronavírus e chegou ao ápice durante o processo que culminou na demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Nos últimos dias, o presidente tem se mantido na defensiva por causa das críticas a sua participação no ato a favor de um novo AI-5, o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), que abriu caminho para o recrudescimento da repressão.
O presidente tem recebido dirigentes de partidos do centrão no Palácio do Planalto para que seu governo negocie cargos em troca de apoio. Na manhã desta quarta-feira, os jornalistas tentaram questioná-lo sobre o assunto, mas, ele ignorou as perguntas.
— Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Então, vocês não distorcem mais. O que eu li hoje, inventam tudo. Então, podem continuar inventando — disse Bolsonaro, antes mesmo de ser indagado pelos jornalistas.