BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Figura constante no Palácio do Planalto durante a crise do novo coronavírus, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) ganhou uma sala próxima ao gabinete presidencial de seu pai, no Palácio do Planalto.
De acordo com relatos feitos à reportagem, ele tem usado desde o início desta semana uma sala do terceiro andar, onde tem coordenado a ofensiva do governo nas redes sociais. O espaço, que já havia sido ocupado antes pelo vereador, pertence ao assessor internacional da Presidência, Filipe Martins.
O auxiliar do presidente adotou período de quarentena após ter contraído coronavírus, e a expectativa é a de que ele retorne ao Palácio do Planalto nesta quarta-feira (1). Com a criação do gabinete para Carlos, Martins deve ser deslocado para o quarto andar do Palácio do Planalto, em um gabinete que era usado pela Secretaria de Governo.
A expectativa de assessores presidenciais é de que Carlos fique no Planalto até o final de abril, mês em que se espera um pico do número de casos da doença e, portanto, um eventual agravamento da crise atual.
A presença do filho do presidente na sede administrativa já tem gerado reclamações na equipe ministerial. O receio é de que Carlos, conhecido nas redes sociais como "pitbull", passe a monitorar a atividade de auxiliares presidenciais para contar ao pai.
Mentor do chamado "gabinete do raiva", bunker digital do Palácio do Planalto, o vereador tem atuado na estratégia online em defesa de uma quarentena vertical, ou seja, que resguarde apenas os grupos de risco (como idosos e pessoas com doenças preexistentes).
No esforço digital, Carlos -o filho 02 do presidente- tem contado também com o apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) -o 03.
Na manhã desta terça-feira (31), por exemplo, Eduardo se reuniu com o pai no Palácio da Alvorada. Os dois filhos ajudaram o presidente a formular o pronunciamento que ele fará na noite desta terça-feira (31) em cadeia nacional de televisão e rádio.
Para pressionar governadores e prefeitos a flexibilizar as regras de isolamento, a rede bolsonarista tem produzido vídeos a favor da reabertura de comércios e shoppings.
Os conteúdos têm sido compartilhados até mesmo por ministros palacianos, preocupados que a extensão da quarentena possa gerar uma onda de saques no país. Um dos vídeos, ao qual a reportagem teve acesso, mostra pessoas brigando, em um supermercado francês, em meio à pandemia do coronavírus.
As imagens foram acompanhadas de um comentário: "Para aqueles que defendem a quarentena, vai aí uma amostra do pós-quarentena. Isso é na França".
Em uma outra gravação, o locutor critica a cobertura dos veículos de imprensa, alerta para o aumento da criminalidade e reforça o discurso do presidente de que se trata "só de uma gripe para 80% ou 90% que pega"."
É difícil defender quarentena quando o armário já esta vazio", ressaltou. "Onde vai morrer gente por falta de dinheiro para a saúde em geral, aumento da criminalidade, de fome, depressão e suicídio."
Desde a semana retrasada, os três filhos mais velhos do presidente montaram uma espécie de gabinete paralelo no Palácio do Planalto. Eles mobilizam simpatizantes nas redes sociais e participam de reuniões
Na semana passada, Carlos participou de teleconferência do presidente com governadores do Sul e do Norte. Ele também ajudou na redação do discurso do presidente em pronunciamento em cadeia nacional, feito na terça-feira (24).
A participação de Carlos em reuniões administrativas tem incomodado integrantes do governo, para os quais não caberia ao vereador do Rio de Janeiro participar de atividades federais que não competem ao seu mandato local.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, concedida na semana passada, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que, apesar de ter participado de reunião com governadores, Carlos "não abriu a boca". "Sentou, mas não abriu a boca, né. Ele sabe também que não vai abrir a boca porque não tem nenhum papel no governo", disse.