Terminou com ameaça de greve a primeira prova de fogo do pacote que promete mexer nas carreiras do funcionalismo do Estado. Depois de ouvir do governador Eduardo Leite a proposta de revisão das regras funcionais dos professores, a direção do Cpers-Sindicato declarou preocupação, disse que não aceitará perda de direitos e reafirmou a decisão de paralisar atividades 72 horas após o projeto ser protocolado na Assembleia.
— Temos de construir a nossa greve e fazer a resistência. Outros governos já tentaram mexer no nosso plano de carreira e não conseguiram. Vamos fazer a resistência mais uma vez — declarou a presidente da entidade sindical, Helenir Schürer.
Sob gritos de "vai ter greve", ela demonstrou apreensão em relação às possíveis alterações na Previdência, que incluem a cobrança de alíquotas progressivas inclusive entre os aposentados que hoje não contribuem (os que ganham abaixo do teto do INSS). Também disse temer que o "piso vire o teto". Afirmou que o Cpers irá analisar o conteúdo da apresentação (salvo em um pendrive) para, então, propor modificações, mas disse não acreditar na possibilidade de recuo.
— O governo foi muito firme. Não vi muita disposição de mexer em nada. Mas aqui também tem uma categoria firme, com nenhuma disposição de perder direitos — ressaltou.
No início do encontro, no auditório do Centro Administrativo do Estado, na Capital, Helenir chegou a dizer que estava ali para escutar o governo, embora tenha advertido para a desvalorização salarial da categoria.
—Espero que na apresentação que vamos ver agora o governo tenha levado em conta a necessidade absoluta de recuperar nosso salário — alertou Helenir, antes de ver os slides preparados pelo Palácio Piratini.
Ao chegar às reunião, Leite fez questão de cumprimentar todos os 15 integrantes da comitiva do Cpers — e foi correspondido, apesar do clima de tensão no ar. O grupo já estava acomodado na plateia quando o governador apareceu. Os assentos destinados a ele e ao secretariado estavam no palco, mas foram retirados de lá e colocados ao nível do solo, de frente para os convidados, a cerca de um metro e meio de distância.
Depois de se sentar na frente de Helenir, o governador deu boas-vindas e ouviu da professora um pedido — ela queria autorização para que o assessor de imprensa da entidade permanecesse no local, para cobrir o encontro. De imediato, Leite assentiu. Em seguida, explicou que a imprensa faria algumas imagens antes de deixar o local e entregou o microfone a Helenir.
— Estamos aqui para ouvir. Ainda não decidimos nada — ponderou Helenir.
Assim que a imprensa deixou o auditório, Leite deu início à apresentação de dezenas de slides em um telão — a maioria sobre a situação financeira crítica do Estado. Somente depois disso passou a falar das modificações no plano de carreira do magistério — que data de 1974 e, até hoje, nunca foi atualizado.
Entre as mudanças, Leite disse que planeja reduzir o número de níveis de progressão funcional de seis para cinco e pagar o piso nacional do magistério como manda a lei. Em contrapartida, pretende extinguir todos os adicionais por tempo de serviço e mexer no adicional de difícil acesso.
Além disso, se o projeto for aprovado na Assembleia, a remuneração prevista para cada nível e classe da carreira não estará mais atrelada ao básico. Até agora, essa característica gerava um efeito-cascata bilionário sempre que o governo decidia dar reajuste aos mestres, por menor que fosse.
A decisão de sugerir a reformulação das regras é a quarta tentativa desde 1974. Todas as vezes em que governantes tentaram modificar o plano de carreira dos professores — isso ocorreu nas gestões de Alceu Collares (PDT), Antônio Britto (então PMDB) e Yeda Crusius (PSDB) —, o Cpers resistiu às alterações.
Ao final da conversa com o sindicato, Leite disse que já esperava críticas, por não estar "dourando a pílula". Ele lembrou que o Estado está há quatro anos sem pagar a folha e que não há alternativa senão seguir pelo caminho do ajuste, o que inclui as carreiras do funcionalismo.
— Foi uma conversa franca e transparente — destacou.
O governador disse que gostaria de poder manter a atual estrutura de carreira dos professores e, ainda assim, pagar o piso nacional, mas ressaltou que isso "não é possível". Leite garantiu que manterá o diálogo com o Cpers na tentativa de chegar ao melhor resultado.
— Voltaremos a falar com eles. Assumimos esse compromisso — destacou.