Policiais federais liberaram para a mídia a íntegra dos depoimentos dos quatro presos por hackear celulares de integrantes da operação Lava-Jato. O testemunho daquele que é suspeito de liderar a invasão telemática, Walter Delgatti Neto, o Vermelho, já tinha vazado na sexta-feira (26). Ele afirmou ter acessado telefones e aplicativos de mensagens de autoridades dos três poderes, além de ter repassado ao site The Intercept Brasil cópias de conversas travadas entre procuradores da Lava-Jato e o juiz Sergio Moro.
Agora surgiram os depoimentos do DJ Gustavo Santos, da sua companheira, Suelen Priscila de Oliveira, e do motorista de Uber Danilo Cristiano Marques, todos presos junto com Walter Delgatti Neto, golpista com diversos antecedentes criminais.
Os três, apesar de amigos de longa data de Delgatti, negaram ter participado da invasão de celulares. O DJ Gustavo, o Guto, foi o único do trio que admitiu saber que Delgatti invadiu os computadores das autoridades. O próprio hacker lhe mostrou e lhe enviou cópia do aplicativo Telegram que teria sido surrupiada do telefone do juiz Moro, como detalha o depoimento:
"...QUE passado alguns dias recebeu uma ligação de vídeo de WALTER DELGATTI NETO pela qual ele filmou a tela do seu notebook onde tinha vários ícones de TELEGRAM separados por nome...QUE falou para WALTER NETO que isso poderia dar problema, tendo em vista a repercussão do caso; QUE dentre as contas de TELEGRAM que apareceram na imagem capturada se recorda apenas de uma conta em nome do Ministro SÉRGIO MORO, que estava em destaque do lado esquerdo da tela...", declarou Guto.
Sobre os R$ 627 mil que passaram por sua conta e da sua mulher nos últimos meses, Guto afirmou que são dele, fruto de aplicações em bitcoin (moeda virtual) e que Suelen apenas cedeu a conta bancária, sem lidar com o dinheiro.
Os outros dois presos, Suelen (mulher de Guto) e o motorista de aplicativo Danilo Marques, garantem nada saber sobre o hack. Eles detalham, porém, episódios de fraudes ou de gastos misteriosos praticados por Walter Delgatti Neto, o Vermelho.
Danilo ressalta que Delgatti "às vezes aparecia com carros luxuosos", mas desconhece como ele obtinha recursos para comprar tais veículos. Ele admite que Delgatti custeou todas as despesas DA DUPLA em viagens que realizaram para as cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Natal (RN) e que não sabe de onde saiu o dinheiro.
Danilo reconhece que emprestou seu nome para Delgatti alugar imóveis e carros e que também realizou a compra de US$ 3 mil a pedido do hacker, que estaria com "nome sujo" na praça. Ele assegura que Delgatti não disse qual era a origem do dinheiro utilizado na compra dos dólares, mas que precisava da moeda americana porque pretendia morar nos EUA - o que, de fato, fez, por três meses.
Danilo também declarou que estava com Delgatti quando esse foi preso pela Polícia Rodoviária Militar do Estado de São Paulo por uso de documentos falsos (uma carteira de estudante de medicina da Universidade de São Paulo, falsa, que estava em nome do hacker).
"...que nesta prisão WALTER DELGATTI NETO portava um extrato bancário editado no valor de R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais); QUE WALTER NETO fraudou este referido extrato bancário com o objetivo de se vangloriar..."
Já Suelen de Oliveira diz que viajou com o companheiro Guto e com Walter Delgatti para Santa Catarina e as despesas foram pagas por Delgatti.
"...ele aparentava possuir recursos financeiros, tendo em vista que sempre frequentava bons restaurantes e hotéis de qualidade", descreve ela.
Delgatti, Guto, Suelen e Danilo tiveram as prisões temporárias renovadas por mais cinco dias e podem prestar novos depoimentos.