O plano do presidente Jair Bolsonaro para facilitar o porte de armas no país é reprovado por 70% da população. A constatação está em pesquisa Datafolha realizada nos dias 4 e 5 de julho, que também revela crescimento, no limite da margem de erro, da maioria favorável à proibição da posse de armas (a possibilidade de ter uma em casa ou no trabalho).
Essa parcela da população, que diz concordar com a afirmação de que "a posse de armas deve ser proibida, pois representa ameaça à vida de outras pessoas", oscilou de 64% para 66% entre abril e julho, chegando ao índice mais alto desde novembro de 2013 (68%).
Após recuo entre 2013 e 2017, o índice de rejeição avança continuamente desde junho daquele ano. Por outro lado, recuou de 34% para 31% a parcela dos que assentem com a frase "possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender".
O levantamento do Datafolha ouviu 2.086 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
As entrevistas foram feitas pouco mais de uma semana após a gestão Bolsonaro revogar os decretos sobre armas que havia editado anteriormente e de publicar outros três, além de anunciar um projeto de lei com tramitação em regime de urgência para facilitar o porte de armas, ou seja, a possibilidade de o cidadão levá-las consigo.
A proposta, porém, além de ser rejeitada por 70% da população, é reprovada pela maioria dos segmentos ouvidos na pesquisa Datafolha. As exceções são as pessoas que têm como preferência partidária o PSL (72% são a favor do projeto), partido do presidente, os que se declaram empresários (55%) e os entrevistados que avaliam o governo como ótimo ou bom (52%).
Entre os que afirmam ter votado em Bolsonaro na eleição de 2018, há empate técnico: 47% se dizem a favor, e 50%, contra.
De forma coerente com o resultado eleitoral, a pesquisa Datafolha aponta ainda que o índice de pessoas favoráveis ao projeto que facilita o porte de armas é relativamente maior no Sul, alcançando 38%, ante 23% no Nordeste, região que mais rejeita a medida — e também a única em que Fernando Haddad (PT) obteve mais votos do que Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018.
A rejeição à facilitação do porte de armas também é maior entre mulheres (78%), pretos (74%), pardos (72%) e indígenas (82%) e ainda entre os mais pobres. No segmento dos entrevistados com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, 75% são contra o projeto. No de 10 salários mínimos, o índice cai para 51%.
Considerando-se a idade, a reprovação à facilitação do porte de arma fica entre 70% e 72% entre todas as faixas etárias, mas é menor na de 25 a 34 anos (63%).
Entre religiões, a rejeição à proposta é maior entre os evangélicos neopentecostais (76%), um dos grupos mais cortejados politicamente pelo presidente. Em seguida, vêm espíritas (75%) e adeptos de religiões afrobrasileiras. Como a amostra de entrevistados é menor nesses casos, os números devem ser lidos como tendência.