RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta segunda-feira (1º) que ajudou na arrecadação de caixa dois de campanha eleitoral do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o ex-senador Lindbergh Farias (PT).
A declaração foi dada em interrogatório ao juiz Marcelo Bretas na ação penal que apura o pagamento de propina pelo empresário Arthur Soares, dono de empresas de prestação de serviço.
Cabral confessou que recebeu uma mesada entre R$ 200 mil e R$ 300 mil nos dois primeiros anos de mandato à frente do governo estadual (2007 e 2008). Nos anos seguintes, a remessa se tornou mais instável em razão das dificuldades da empresa com os pagamentos do estado, relatou o emedebista.
Nesse período, segundo o ex-governador, Soares atendeu a seu pedido para ajudar as campanhas de Paes à prefeitura, em 2008, e Lindbergh ao Senado, em 2010.
"Em 2008 o convenci a ser o maior doador da campanha de Eduardo Paes. E ele foi. Deu R$ 6 milhões para a campanha", disse Cabral.
"Em 2010, deu uma ajuda ao Lindbergh Farias. Ajuda significativa, entre R$ 5 [milhões], R$ 6 milhões", disse o emedebista.
A contribuição a Paes já havia sido mencionado por Cabral em depoimento prestado em fevereiro, o primeiro em que adotou a nova postura de confessar os crimes que lhe são atribuídos.
Na ocasião, ele havia dito que o valor destinado ao ex-prefeito pelo empresário era de cerca de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões.
Cabral disse que Soares por muito tempo se queixou de não ter obtido retorno em contratos no município. O empresário foi depois beneficiado na gestão Paes por contratos na área de saúde e no Centro de Operações.
"Muito dos contratos da prefeitura eram com OSs (organizações sociais de saúde). E isso excluía o Arthur. Por isso teve essa dificuldade até encontrar a solução no Centro de Operações. O Arthur era muito educado, mas muito pragmático. Ele deixava muito claro [a contrariedade]", afirmou ele.
Cabral já foi condenado em nove processos da Lava Jato, acumula 198,5 anos em condenações e responde a um total de 32 ações penais, 30 relacionadas à operação. Ele é acusado de cobrar 5% de propina sobre os grandes contratos do estado e está preso desde o fim de 2016.
Procurado, Eduardo Paes afirmou que não comentaria o caso. Em fevereiro, ele negou as acusações e afirmou em nota que "todos os valores recebidos durante a campanha em 2008 foram devidamente declarados na justiça eleitoral, sendo todos aprovados."
A reportagem ainda não conseguiu contato com Lindbergh Farias.