Política

Após vazamento de conversas

Oposição pede afastamento de Moro e diz que obstruirá votações no Congresso

Líderes de PT, PCdoB e PSOL avaliam ainda a criação de uma CPI para investigar o caso revelado pelo The Intercept Brasil

Folhapress

Angela Boldrini E Catia Seabra

A bancada oposicionista na Câmara dos Deputados declarou que pretende obstruir todas as votações no Congresso depois do vazamento de conversas do ministro da Justiça Sergio Moro com procuradores da Lava-Jato

Nesta segunda-feira (10), líderes partidários de PT, PCdoB e PSOL pediram o afastamento de Moro do cargo e aventaram a possibilidade de criação de CPI para investigar o caso revelado pelo The Intercept Brasil.

— Deve levar imediatamente ao afastamento do Moro de onde ele está, do seu cargo. O parlamento brasileiro tem que entrar nessa investigação, está colocada na mesa a possibilidade de CPI — afirmou a líder da minoria, Jandira Feghali (PC do B-RJ). 

Além disso, deputados devem apresentar requerimento de convocação para que o ministro tenha que dar explicações à Câmara.

— Não é possível que ele esteja à frente do Ministério da Justiça já que essa investigação tenha que ser conduzida pela Polícia Federal — afirmou Paulo Pimenta (PT-RS). 

A oposição deve obstruir votações nesta semana, que é crucial para o governo. Bolsonaro tem que aprovar um projeto de crédito suplementar em sessão do Congresso marcada para esta terça-feira (11).

— Nós vamos entrar em obstrução total para que nenhuma matéria possa tramitar até que essas medidas de natureza administrativa sejam adotadas — afirmou Pimenta.

Segundo o líder do PSOL, Ivan Valente (SP), os partidos estão reunidos e aguardam a possível liberação de mais mensagens para definir a apresentação de recursos como a convocação. 

De acordo com os diálogos revelados no domingo (9), Moro e Deltan Dallagnol trocavam colaborações sobre casos. Entre eles, o que levou à prisão do ex-presidente Lula por causa do triplex de Guarujá. Nele, o petista é acusado de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS em decorrência de contratos da empresa com a Petrobras.

Cautela

Reunidos nesta segunda em São Paulo, dirigentes de seis partidos de oposição e representantes de movimentos de esquerda recomendaram cautela sobre a estratégia a ser adotada após a revelação das conversas entre Moro e Dallagnol.

Apesar de defenderem a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o afastamento de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, dirigentes partidários temem que as iniciativas da esquerda sejam interpretadas como mais um capítulo da disputa política entre o ex-presidente e o ministro. Daí a necessidade de uma apuração rigorosa e ampliação dos defensores dessa investigação.

Na reunião, o ex-ministro Orlando Silva (PCdoB-SP) foi um dos que manifestaram essa preocupação. Segundo ele, é necessária uma apuração rigorosa dos atos praticados, mas sem que a tática da oposição se restrinja a uma disputa Lula versus Moro. 

— Politizar o assunto é encobrir ilegalidades eventualmente praticadas — disse Orlando Silva. 

Também presente à reunião, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos concorda que o momento exige prudência. Ele, no entanto, afirma que não há como dissociar os métodos de um juiz com sua sentença. Por isso, Boulos defende o pedido de anulação da condenação de Lula. 

— Moro perdeu a condição política e moral de continuar no Ministério da Justiça — disse Boulos, recomendando prudência.

Coordenador do Movimento dos Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues também prega a ampliação do debate, incluindo Conselho Nacional de Justiça e do Ministério Público. Ele, no entanto, avisa: 

— Vamos querer que o Lula seja solto imediatamente.

Mesmo com dúvidas sobre a estratégia ideal, incluindo o apoio à instalação de uma CPI sobre o caso, participantes da reunião avaliaram que esse é o melhor cenário encontrado pela  oposição desde a eleição de Bolsonaro. 

— É evidente que amplia a instabilidade  do governo e coloca em dúvida a credibilidade do trabalho dos procuradores de Curitiba — afirma o presidente do PSOL, Juliano Medeiros.

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