Entidades de classe estão repudiando sobre o ataque de Jair Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo e à repórter Constança Rezende. Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) "lamentam que o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão".
A polêmica ganhou visibilidade quando o presidente se manifestou no Twitter e endossou tese levantada pelo site Terça Livre, que falsamente atribuiu à jornalista do Estadão a declaração de que teria "intenção" de "arruinar Flávio Bolsonaro e o governo".
A suposta declaração, que aparece entre aspas no título do texto do Terça Livre, foi atribuída pelo site à repórter. A frase teria sido dita, segundo "denúncia" de um jornalista francês, em uma conversa gravada em que a repórter fala da cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio.
A gravação do diálogo, porém, mostra que Constança em nenhum momento fala em "intenção" de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só trechos selecionados foram divulgados. Em um deles, a repórter avalia que "o caso pode comprometer" e "está arruinando Bolsonaro", mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.
Confira íntegra da nota
A propósito do episódio relacionado à repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S.Paulo, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamentam que o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão.
Os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os cidadãos e a própria democracia.
ABERT, ANER e ANJ assinalam que a tentativa de produzir na imprensa a imagem de inimiga ignora o papel do jornalismo independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas.
Brasília, 11 de março de 2019.
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
Associação Nacional de Editores de Revistas
Associação Nacional de Jornais
Site que originou caso desmente acusações
O site francês Mediapart, onde foram publicadas as declarações distorcidas da repórter, desmentiu ontem à tarde, em português, as acusações repercutidas pelo site apoiador e por Bolsonaro. No Twitter, o portal francês disse se solidarizar com Constança. "As informações publicadas no ‘club de Mediapart’, que serviram de base para o tweet de Jair Bolsonaro, são falsas. O artigo é de responsabilidade do autor e o blog é independente da redação do jornal", diz o site francês.
A publicação original que acusou a repórter foi feita em um blog produzido por leitores do Mediapart. O texto, intitulado “Para onde vai a imprensa?”, foi publicado em uma seção do site chamada “Le Club”, uma espécie de fórum online no qual internautas podem manter blogs próprios.
O texto original é assinado por Jawad Rhalib, que se apresenta como “autor, cineasta, documentarista e jornalista profissional”.
O blog de Rhalib tem sete postagens, que começaram a ser publicadas em dezembro de 2018. Qualquer assinante do site Mediapart pode participar da seção Le Club. A assinatura custa dois euros por semana. O jornal O Estado de S. Paulo informou que procurou contato com Rhalib por e-mail e por telefone, mas não houve resposta.