Ampliar a reforma trabalhista e dividir a da Previdência em mais de um projeto foram alguns dos planos apresentados por Jair Bolsonaro (PSL) a bancadas partidárias da Câmara. Nesta terça-feira (4), ele se reuniu com parlamentares de MDB e PRB, no primeiro movimento de aproximação com lideranças partidárias desde sua eleição. O futuro presidente pediu apoio às propostas e voltou a afirmar que não irá distribuir cargos em troca de apoio.
Ele parabenizou os deputados que votaram a favor das alterações nos direitos trabalhistas, pontuando que ainda é preciso ampliar as mudanças, sem detalhar quais pontos pretende rediscutir.
— Os empregadores dizem que o Brasil é o país dos direitos, mas não tem empregos. Isso tem que ser equacionado um dia.
Prevendo dificuldades no Congresso, Bolsonaro admitiu dividir a reforma da Previdência em vários textos. O foco principal seria a definição de idade mínima para aposentadoria por tempo de serviço. Ele defende o aumento de dois anos "para todo mundo", sem explicar qual seria a base do cálculo. A proposta que tramita no Legislativo, enviada por Michel Temer, prevê os pisos de 65 anos para homens e 62 para mulheres após período de transição.
— Nós queremos, sim, apresentar uma proposta de emenda à Constituição, começando a reforma pela Previdência pública e com chance de ser aprovada (...) Não adianta ter a proposta ideal, se ficar na Câmara e no Senado — destacou, afirmando que pretende “atacar privilégios”.
Para aprovar a idade mínima, será preciso mudar a Constituição. O ato exige a aprovação de 308 deputados em dois turnos. A equipe de Bolsonaro está otimista em obter este número. Já no Senado, são necessários 49 votos. Na avaliação da equipe de transição, a Casa ofereceria maior dificuldade.
Na segunda-feira (3), o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), afirmou que o governo terá quatro anos para aprovar a reforma da Previdência, destacando que não haverá pressa, caso o apoio não esteja garantido. Em entrevista para uma rádio colombiana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) mencionou que "se o Congresso não aprovar as reformas, pelo menos vamos ter tentado".
Encontro com partidos
Durante a tarde desta terça-feira (4), Bolsonaro iniciou o processo de aproximação dos partidos que formam a Câmara. Nos encontros com deputados de MDB e PRB, os temas predominantes foram a necessidade de reformas e de apoio dos parlamentares. O presidente eleito classificou as agendas como "proveitosas", citando que há “grande identidade” entre as siglas e os planos do futuro governo, o que também foi citado pelos líderes das bancadas. Para dar peso maior a suas palavras, Bolsonaro usou o antipetismo para provocar os presentes, dizendo que eles "sabem que não podem errar", sob o risco da volta da esquerda ao poder.
Partidos satisfeitos
Integrantes de MDB e PRB saíram satisfeitos do encontro com o futuro presidente. O discurso dominante entre quem participou das agendas é o de que Bolsonaro repetiu que não irá realizar negociações envolvendo a troca de apoio por cargos no governo.
Líder da bancada emedebista na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (SP), demonstrou otimismo em relação à pauta econômica que deverá ser apresentada pelo Executivo nos primeiros meses de 2019, mas destacou que é preciso manter um canal de diálogo entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
— O governo precisa de uma parceria forte com o Parlamento.
Nos bastidores, representantes de diversas siglas vinham criticando a articulação política de Bolsonaro com bancadas temáticas — como a ruralista, a da saúde e a da assistência social — e a demora em conversar com as lideranças partidárias.
O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), não foi ao encontro. Já o líder nacional do PRB, deputado federal Marcos Pereira (SP), foi o principal interlocutor de sua legenda junto ao presidente eleito, prometendo apoio, apesar de afirmar que não integra a base aliada do futuro governo.
— Dissemos a ele que 80% da nossa pauta converge. Não vemos dificuldades em apoiá-lo — salientou.
Nesta quarta-feira (5), Bolsonaro se reunirá com as bancadas do PSDB e do PR. Outros partidos serão convidados para encontros a partir da próxima semana. Definições para preenchimento de cargos de segundo e terceiro escalões deverão ocorrer após a conclusão destas agendas.