Os protestos em série que têm marcado a caravana de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo interior do Rio Grande do Sul chegaram ao ápice na tarde desta sexta-feira (23). Manifestantes contrários ao ex-presidente bloquearam a chegada da comitiva em Passo Fundo, no norte gaúcho, e, pela primeira vez, o petista recuou e cancelou um compromisso no Estado.
Formado por ruralistas e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), o grupo bloqueou o acesso à cidade pela RS-324. Entre os gritos de ordem, ouvia-se “Lula, ladrão, em Passo Fundo não”. A maioria dos manifestantes carregava ovos para lançar contra os ônibus da caravana e, mesmo com os apelos da Brigada Militar (BM), prometia não desistir.
O Batalhão de Operações Especiais (BOE) chegou a lançar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os ativistas. Porém, mesmo com a correria, ninguém deixou o local. Os manifestantes colocaram fogo em pneus, e um homem que bloqueava a estrada em um trator foi preso por desacato.
Enquanto os ânimos se acirravam à beira da rodovia, os ônibus da caravana estavam em Pontão, pequeno município de 3,8 mil habitantes distante 41 quilômetros de Passo Fundo, onde Lula havia participado de um ato no início da tarde. À paisana, integrantes da comitiva petista se deslocaram para a cidade onde ocorria o protesto e informaram aos demais que o cenário era crítico.
Lula insistiu em manter a agenda na cidade, onde visitaria o campus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e discursaria aos militantes. Até então, a caravana havia conseguido manter os principais eventos pelo Estado, mesmo com a animosidade de parte dos manifestantes. Recuar soaria como uma derrota.
Coube ao presidente estadual do PT, Pepe Vargas, tentar contato com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Com o titular em voo, conseguiu falar somente com o seu chefe de gabinete.
O ex-ministro Miguel Rossetto, pré-candidato ao Piratini, telefonou para o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, e ao subcomandante-geral da BM, Mário Ikeda. Pela primeira vez, os petistas ouviram que os policiais não poderiam assegurar a segurança de Lula e de seus militantes.
— As autoridades não conseguiram garantir a integridade de um ex-presidente, e ele decidiu não correr o risco — desabafou um aliado do petista.
Diante do cenário negativo, a caravana, em uma deliberação conjunta, decidiu abortar a passagem por Passo Fundo. Ao lado de Rossetto, da ex-presidente Dilma Rousseff, do ex-governador Olívio Dutra e de seus seguranças pessoais, Lula seguiu, em um carro, para Chapecó, em Santa Catarina. De lá, embarcou em um voo fretado para participar do evento em São Leopoldo, o encerramento de sua passagem pelo Rio Grande do Sul.
— É uma turma fascista que atua com a intolerância política e a violência — disse Pepe Vargas.
Entre os manifestantes, a desistência de Lula foi comemorada como uma vitória. Ouviu-se buzinaço pela cidade.
— Nós ganhamos — comemorou um ativista vestido com a indumentária gaúcha.