Ao mesmo tempo em que abre as portas do PPS para a candidatura do apresentador e empresário Luciano Huck disputar ao Palácio do Planalto em 2018, o deputado federal Roberto Freire, presidente da sigla, mantém uma ponte segura com o governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB.
O tucano, que é um aliado histórico, "puxou" quatro deputados para o seu secretariado e, com isso, permitiu que Freire assumisse o mandato na Câmara.
— Temos de começar a discutir uma candidatura única das forças que fizeram oposição aos governos "lulo-petistas". O Alckmin é um dos nomes que pode representar essa unidade. Ele tem um diferencial, que é a experiência de um governo com capacidade de diálogo.
Freire, porém, faz questão de ressaltar que o PPS também pode fazer "a escolha pelo novo". Segundo o dirigente, ainda não há martelo batido sobre uma possível entrada de Huck na legenda. O apresentador faz parte de um movimento, o Agora!, que planeja lançar candidaturas independentes dentro de partidos no processo eleitoral.
O movimento está conversando com o PPS em vários Estados, entre eles Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco.
— O PPS trabalha com afinco por essa interação com o Agora!. Faz tempo que avaliamos que o tempo dos partidos está acabando. Somos um pouco a representação do passado, e eles do futuro — disse Freire.
O presidente do PPS também falou sobre a pressão da Rede Globo. Em comunicado interno, divulgado na semana passada, o canal pediu aos funcionários que comunicassem com antecedência sobre a intenção de participar do processo eleitoral.
A emissora tem por hábito fechar a grade de programação do ano seguinte em dezembro. Esse é um dos motivos para pressionar o apresentador a se definir.
— Apesar de toda a pressão, quando eu decidi entrar na política, foi uma decisão solitária. É uma mudança de vida muito grande. O Huck está vivendo essa pressão — disse Freire.
Quando o deputado é questionado sobre se o apresentador está preparado para governar o Brasil, a resposta está pronta:
— Ele faz parte desse movimento com o qual temos identidade. É uma celebridade, mas tem boa formação. Huck não é um simples apresentador.
Sobre outros cenários ventilados pelo PPS, o presidente da sigla não inclui apoiar um candidato ungido pelo governo Michel Temer.
— Nós temos independência em relação ao governo Temer. Não é esse o caminho que estamos vislumbrando. Mas, se a economia registrar crescimento em 2018, o governo certamente terá protagonismo na sucessão.
DEM
Em uma das frentes ventiladas pelo apresentador, as conversas com o DEM teriam "esfriado" por influência do Agora!.
— Assim como outros grandes partidos brasileiros, o DEM não está muito interessado em renovação — disse um dos coordenadores do grupo e cientista político Leandro Machado, porta-voz e coordenador do Agora!.
Nos últimos encontros com lideranças políticas, Huck tem sido acompanhado pelo menos por um membro do Agora!.
Na última reunião com Roberto Freire, no dia 10, a representante do movimento foi Ilona Szabó de Carvalho, diretora da organização não governamental, Instituto Igarapé.
Movimentação
Huck e Agora! têm se movimentado politicamente de forma conjunta e, mesmo se o apresentador não formalizar candidatura, deve chancelar nomes apoiados pela organização.
O Agora! quer lançar candidatos ao Legislativo nas próximas eleições. Entre os partidos procurados estão o próprio PPS, a Rede e os Livres (ex-PSL).
Sobre conversas com o DEM, Machado é claro:
— "No way" (sem chance).
O cientista político descarta o DEM porque o partido "não oferece a possibilidade de candidaturas independentes", disse. Embora faça questão de separar o Agora! de Huck, Machado também acha "muito difícil" que o apresentador se filie ao DEM.
Dentro do partido, o fator Huck perdeu força. A sigla viu a influência do Agora! sobre o apresentador crescer e afastá-lo da legenda. Um membro da direção do partido, que preferiu não se identificar, afirmou que as primeiras conversas com o apresentador foram promissoras.
— Ele parecia pragmático. E entendia que só teria chance em um partido que tivesse tempo de TV e fosse tradicional e estruturado — disse.