O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, aceitou nesta segunda-feira (23) pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que o ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) seja transferido para um presídio federal. A solicitação foi apresentada pelo procurador da República Sérgio Pinel, sob alegação de que Cabral teve acesso a dados privilegiados. O presídio para onde ele será enviado ainda não foi escolhido.
A decisão de mudar Cabral de prisão ocorreu em audiência marcada pela tensão entre o réu e Bretas. O juiz suspendeu a sessão por cinco minutos, depois que o ex-governador do Rio o acusou de procurar projeção pessoal.
— O senhor está encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal me fazendo um calvário — disse Cabral, que soma mais de 70 anos de prisão, em três sentenças (duas delas proferidas por Bretas).
O juiz perguntou se a orientação para fazer essa pergunta teria sido do advogado Rodrigo Roca. O defensor de Cabral disse que a questão era uma "ofensa" e respondeu que não.
O magistrado também se irritou quando Cabral, ao dizer que comprou joias com dinheiro de caixa dois, mencionou que a família de Bretas trabalhava com a venda de bijuterias. Bretas reclamou de o ex-governador ter demonstrado conhecimento sobre detalhes de familiares seus, o que pesou para que o pedido fosse feito e aceito quase imediatamente.
— Isso pode ser subentendido como ameaça. E a lei veda que o próprio acusado crie uma suspeição que não venha de orientação técnica — disse o juiz para Roca. — Isso vem de pessoa que está obviamente chateada por questões que lhe são contrárias — completou Bretas.
Antes da discussão mais fervorosa, Bretas havia perguntado se Cabral se sentia injustiçado e ele disse que "sem dúvida".
— Queira o senhor ou não, eu fui o líder deste Estado, eu realizei neste Estado, eu trabalhei nesse Estado — disse Cabral.
Bretas respondeu:
— Mais uma vez, o senhor quer criar aquele discurso de injustiçado — afirmou.