Depois de sair, na terça-feira (24), de uma conversa reservada com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que, da sua parte, não há problema com o governo. Na véspera da votação, no plenário da Câmara, da segunda denúncia contra o presidente, Maia afirmou, no entanto, que não é amigo de Temer.
— Em política não tem amiguinho. Muito menos para sempre — respondeu o deputado, ao ser questionado por jornalistas se havia virado "amiguinho para sempre" de Temer.
A pergunta foi feita porque Maia chegou à Câmara, após a reunião no Planalto, exibindo uma fisionomia alegre.
— Estou de bom humor porque consegui ver meu filho hoje — brincou.
Indagado sobre as dificuldades do Planalto para votação de propostas importantes para o ajuste fiscal, mesmo se confirmada a expectativa do governo de que os deputados barrarão a denúncia contra Temer, Maia disse não acreditar em rebelião de aliados.
— O Brasil vive uma crise profunda e a gente não pode misturar embate político com agenda da Câmara —afirmou ele.
Confiante de que os parlamentares enterrarão a acusação contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), o governo já prepara o "day after" da crise e vai lançar o mote "Agora é Avançar". O slogan aparecerá em campanhas publicitárias, discursos, programas e também nas redes sociais, conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo.
Temer foi acusado pelo ex-procurador geral da República Rodrigo Janot de chefiar uma organização criminosa e obstruir a Justiça nas investigações da Lava Jato. Padilha e Moreira Franco, por sua vez, foram denunciados por organização criminosa. O governo passou os últimos dias em negociações com os deputados, que incluíram distribuição de cargos e liberação de emendas, e está confiante na vitória em plenário, nesta quarta-feira (25).
Após uma escalada de tensão com o Planalto, Maia recomendou a Temer, mais de uma vez, que "reinvente" o governo e invista logo em uma agenda de desenvolvimento. Nesta terça-feira (24), perguntado se o mal-estar com Temer havia acabado, o presidente da Câmara disse haver mais intrigas do que realidade nessas observações.
— Que ato concreto eu fiz contra o governo? Quando a denúncia chegou aqui, queriam dividir e eu fui o primeiro a dizer que não tinha divisão — reagiu ele. — O que acontece é que tem muita gente no entorno que mais atrapalha do que ajuda.
Na lista dos embates entre Maia e Temer estão as duras críticas que o presidente da Câmara fez ao governo após uma manobra do Planalto para que não fosse votada a medida provisória autorizando o Banco Central a firmar acordo de leniência com instituições financeiras. Para acalmar o deputado, o Executivo autorizou a substituição da MP por um projeto de lei, que foi aprovado.
Antes, Maia havia dito que o governo e a cúpula do PMDB tinham dado uma "facada nas costas" do DEM ao assediarem parlamentares que já estavam migrando para o seu partido. Recentemente, vídeos com a delação do corretor Lúcio Funaro contra Temer foram divulgados pelo site da Câmara. Funaro é apontado como operador financeiro do PMDB. A divulgação dos vídeos causou profunda irritação no Planalto.