O "bunker" com milhares de notas de reais em malas e caixas de papelão é o mais novo capítulo na lista de escândalos que envolvem o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). O dinheiro foi localizado nesta terça-feira (5) pela Polícia Federal (PF) em um apartamento localizado em Salvador (BA), em cumprimento de mandado de busca autorizado pela 10ª Vara Federal de Brasília.
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A PF chegou ao "bunker" por meio de informações coletadas na Operação Cui Bono, que em 3 de julho levou Geddel para a cadeia preventivamente. Confira abaixo os detalhes dessa investigação e de outras suspeitas que recaem sobre o ex-ministro.
Operação Cui Bono – As primeiras investigações contra ele são antigas. Geddel foi um dos indiciados na Operação Cui Bono ("A quem beneficia?", em latim), deflagrada pela PF em 13 de janeiro, sobre irregularidades cometidas enquanto ocupou a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF), entre 2011 e 2013. Conversas registradas em um telefone celular apreendido na casa de Eduardo Cunha, do PMDB (quando esse era presidente da Câmera dos Deputados) mostram que ele e Geddel atuavam para garantir a liberação de recursos da CEF a empresas que pagavam vantagens indevidas aos dois e a outros integrantes do esquema. Entre os beneficiados estariam companhias do grupo J&F, que controla a JBS, cujos acionistas fizeram delação.
As delações da Odebrecht – Geddel foi citado em várias delações de executivos da Odebrecht, segundo as quais teria recebido propina entre 2007 e 2010, quando estava à frente do Ministério da Integração Nacional, no governo Lula. Os executivos Marcelo Odebrecht, Cláudio Melo Filho e João Antônio Pacífico Ferreira disseram ainda que o político baiano – apelidado de "Babel" nas planilhas de propina da empresa – foi destinatário de "vantagens não contabilizadas" para as campanhas em 2006 e 2014. Segundo Melo Filho, Geddel teria recebido até mesada fixa da empreiteira naquela época.
A saída do governo Temer – Amigo e companheiro partidário de Michel Temer (PMDB), Geddel foi titular no primeiro semestre da Secretaria Geral de Governo, responsável pela articulação política do Planalto. Geddel deixou o governo após ter sido acusado de pressionar o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, a liberar uma obra no centro histórico de Salvador. Geddel é dono de um apartamento em um edifício cuja construção foi embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), subordinado à pasta da Cultura. Contrariado, Calero pediu demissão, mas acusou Geddel de tráfico de influência. Após alguns dias, Geddel também se demitiu.
Prisão por obstrução da Justiça –Geddel foi preso em 3 de julho passado e conseguiu, dias depois, direito de prisão domiciliar (com uso de tornozeleira). A prisão foi baseada nos depoimentos de Lúcio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do empresário e delator Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, controlador da JBS, Francisco de Assis e Silva. Funaro sustenta que Geddel vinha tentando obstruir as investigações, em especial as tentativas de acordo de delação premiada tanto de Funaro quanto de Cunha. O ex-ministro enviou mensagens de WhatsApp à mulher de Funaro e ligou durante nove dias para checar se o ex-colaborador tinha virado delator da Operação Cui Bono. Os investigadores consideraram que "Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e reitera na prática criminosa". Além de autorizar a prisão, a Justiça acatou os pedidos de quebra de sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro.
As malas de dinheiro – Em nova etapa da Cui Bono, a Operação Tesouro Perdido encontrou, num apartamento que era utilizado por Geddel, mais de uma dezenas de malas e caixas recheadas de notas de R$ 100 e R$ 50. O imóvel pertence a um amigo dele, que disse que o ex-ministro pediu para ocupar o lugar com pertences do pai, falecido em fevereiro de 2016.