O depoimento do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci movimentou o noticiário político brasileiro nesta quarta-feira (6). Ao juiz federal Sergio Moro, o petista admitiu, pela primeira vez, ter cometido crimes no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato. Entre as declarações do ex-ministro, há trechos que incriminam os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Confira os destaques, em sete tópicos:
1 - "Pacto de sangue" com Lula e propina de R$ 300 milhões
Ouvido como réu em um processo criminal da Operação Lava-Jato, o ex-ministro citou que Lula deu aval a um "pacto de sangue" com a Odebrecht para o recebimento de R$ 300 milhões em propinas.
– O doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de "pacto de sangue" com o ex-presidente Lula. Ele procurou o presidente Lula nos seus últimos dias de mandato e levou um pacote de propinas para o presidente Lula, que envolvia esse terreno do Instituto Lula, o sítio de uso da família do ex-presidente Lula, que ele já estava fazendo a reforma, e ele disse que o sítio já estava pronto. E ele disse ao presidente Lula que tinha à disposição dele, pro próximo período, para ele fazer as atividades políticas dele, R$ 300 milhões – disse.
2 - Medo de Dilma
Segundo Palocci, a pressa de Emílio Odebrecht em oferecer o pacote de propina a Lula visava garantir que a então presidente eleita Dilma Rousseff não interrompesse as relações lícitas e ilícitas entre a empresa e o governo federal.
– Quando a presidente Dilma foi tomar posse a empresa entrou em um certo pânico. E foi nesse momento que o doutor Emilio Odebrecht fez uma espécie de "pacto de sangue" com o presidente Lula.
Segundo Palocci, o medo da Odebrecht com Dilma na cadeira da Presidência começou quando ela, então ministra da Casa Civil, dificultou os interesses da empreiteira na construção de usinas hidrelétricas no Rio Madeira. Na ocasião, a construtora havia feito o projeto de duas usinas no empreendimento, mas Dilma não gostou dos planos da Odebrecht e levou essa insatisfação ao então presidente Lula e a Palocci. A empreiteira venceu apenas uma licitação e com preço ruim na ocasião, segundo o ministro.
3 - Relação "movida" a propina
Ao juiz Sergio Moro, Antonio Palocci falou sobre a relação da Odebrecht com os governos Lula e Dilma, dos quais fez parte.
– A denúncia procede, os fatos são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos desta denúncia dizem respeito a um capitulo de um livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos, em forma de doação de campanha, de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2.
4 - Interlocutor de "temas ilícitos"
Palocci afirmou que mantinha relacionamento próximo com os executivos da empreiteira Odebrecht muito antes de integrar o governo federal. Segundo o petista, era ele a pessoa indicada a tratar de "todo tipo de temas" com a empresa, "inclusive, de temas ilícitos".
– Eu os conheci antes do governo. Estive com eles desde 1994 quando o presidente Lula os conheceu. Em algumas oportunidades esse conhecimento se deu com a minha presença e, portanto, eu me tornei amigo dos principais dirigentes da empresa: doutor Emilio Odebrecht, doutor Pedro Novis, doutor Marcelo Odebrecht, desde antes do governo Lula ter início. Então, eu tratava de todo tipo de temas com eles, inclusive, de temas ilícitos.
5 - Propina do pré-sal
O ex-ministro afirmou que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada, em 2010, com o então presidente Lula, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na qual Lula pediu "contribuição" decorrente de contratos do pré-sal para a campanha de sua sucessora, em 2010, à Presidência da República.
O petista diz nunca ter ouvido Lula falar de uma "maneira tão direta" como naquela reunião:
– Ele disse: "Eu chamei vocês aqui por que o pré-sal é o passaporte do Brasil para o futuro, ele que vai dar combustível para um projeto político de longo prazo no Brasil, ele vai pagar as contas nacionais, vai ser o grande financiador dos grandes projetos do Brasil, e eu quero que o Gabrielli faça as sondas pensando nesse grande projeto para o Brasil. Mas o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto, porque ele vai ter total sucesso e para que garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira Dilma Rousseff, que eu quero ver presidente do Brasil" – relatou o ex-ministro a Moro.
6 - "Obstáculos à Lava-Jato"
Perto do fim do depoimento do ex-ministro, Moro pede para esclarecer uma frase proferida por Palocci, onde ele diz que "tentei ajudar a que não andassem as investigações da operação Lava-Jato". Após interpretar a frase, o magistrado perguntou: "juntamente com o ex-presidente"?
– Sim. Em algumas oportunidades, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar, vamos dizer, criar obstáculos à evolução da Lava-Jato. Posso citar casos se o senhor desejar – respondeu prontamente.
– Vamos deixar isso para... não é objeto especifico desse processo, vamos deixar então para outra oportunidade essa questão.
7 - O que diz a defesa de Lula
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu, em nota oficial, as declarações do ex-ministro Antonio Palocci. No texto, Zanin afirma que o depoimento de Palocci é "contraditório" e que o ex-ministro está "sob pressão", já que negocia acordo de delação premiada.
"Palocci muda depoimento em busca de delação. O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas. Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula", diz o texto do advogado.