O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira (2) que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot é um "indivíduo sem nenhum caráter", ao criticar a atuação de Janot no acordo de colaboração premiada de executivos do grupo J&F.
Gilmar votou a favor do pedido da defesa de Temer para que a denúncia apresentada contra o presidente pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça não seja enviada à Câmara dos Deputados, até a conclusão das investigações sobre os indícios de irregularidade envolvendo delatores do grupo J&F. O ministro também votou para que a denúncia seja devolvida à Procuradoria-Geral da República (PGR), por mencionar fatos que não dizem respeito ao mandato de Temer.
– Registro que há elementos levando a crer que outros membros do Ministério Público, que estão atualmente envolvidos nesta investigação, tinham conhecimento das investigações paralelas e gravações clandestinas. Dentre eles, o signatário da denúncia, o então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot Monteiro de Barros. É patente a postura do ex-Procurador-Geral da República, contrária à apuração transparente dessa circunstância relevante – disse Gilmar Mendes.
O ministro também atacou a atuação do ex-procurador da República Marcello Miller no acordo de colaboração premiada do grupo J&F. Miller é acusado de ter ajudado a J&F, mesmo antes de se desligar oficialmente da Procuradoria-Geral da República.
– Certamente, nós vivemos momentos dos mais diversos. Eu sou da turma de 84 da Procuradoria da República, certamente já ouvimos falar de procuradores preguiçosos, violentos, alcoólatras, mas não de procuradores ladrões – atacou Gilmar Mendes.
– É disso que se cuida aqui, corruptos num processo de investigação. Essa pecha a procuradoria não merecia (...) Fico a imaginar o constrangimento que hoje cai sobre a PGR em relação a este episódio, a esse grande e valente procurador da República, que usava métodos policialescos para fazer a investigação – completou.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a assessoria de Miller reiterou que "jamais fez jogo duplo", "que não tinha contato" com Janot e "nem se aproveitou de informações sigilosas de que teve conhecimento enquanto procurador". A nota também diz que Miller "não atuou na Operação Lava-Jato desde outubro de 2016" e "tem uma carreira de quase 20 anos de total retidão e compromisso com o interesse público e as instituições nas quais trabalhou".
A assessoria da PGR informou que Janot não se manifestaria sobre as críticas de Gilmar Mendes.