O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, transformou em réus por apologia ao terrorismo cinco homens e uma mulher, todos moradores do Brasil. Eles foram denunciados há uma semana por possível envolvimento com a organização extremista muçulmana Estado Islâmico (EI). O processo judicial é consequência da Operação Hashtag, deflagrada pela Polícia Federal e por procuradores da República às vésperas dos Jogos Olímpicos, em julho de 2016, e que resultou na condenação de oito brasileiros em abril, pelos mesmos motivos. Entre os já condenados, também por apologia ao terrorismo, está o gaúcho Israel Pedra Mesquita.
A ação judicial transcorre em Curitiba porque a investigação da Hashtag começou no Paraná, quando a PF interceptou mensagens falando de encomenda de armas no Paraguai por parte de um grupo de simpatizantes brasileiros do EI. Em conversas rastreadas por policiais, vários desses extremistas mencionavam os Jogos Olímpicos de 2016 como oportunidade de realizar atentados terroristas. Quando começaram a planejar a compra de armas em território paraguaio e boliviano, 14 deles foram presos. Desses, oito foram condenados e os demais continuam sob investigação. Do total, quatro integrantes do grupo permanecem presos. Os demais foram libertados enquanto aguardam recursos contra suas sentenças, mas seguem sob vigilância policial e proibidos de se afastar das proximidades de suas casas, bem como de manter contato uns com os outros.
Nessa segunda fase da Operação Hashtag viraram réus Danilo Francini dos Santos e Sara Ribeiro Martins (pelos crimes de promoção de organização terrorista e associação criminosa), Fernando Pinheiro Cabral (por associação criminosa), e Leandro França de Oliveira, Gilberto Gonçalves Ribeiro Filho e Mohamad Mounir Zakaria (pelo crime de promoção de organização terrorista). Todos são radicados em São Paulo. Zakaria inclusive chegou a ser líder religioso em uma mesquita.
Fernando Pinheiro Cabral já foi condenado em abril a uma pena de cinco anos e seis meses de reclusão, em regime fechado. Ele está preso desde julho de 2016. Paulista convertido ao islamismo, Cabral confessou em depoimento à PF que pretendia realizar um atentado durante a Parada Gay de São Paulo "em razão da proximidade das Olimpíadas, a fim de aproveitar a mídia em torno desse evento e do Brasil para difusão mundial do ato terrorista". O ato terrorista seria na Rua Augusta, "por essa via concentrar sodomitas, prostitutas, tráfico de drogas, entre outras atitudes consideradas crimes em países árabes", segundo escreveu em mensagens interceptadas pela polícia.
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Desperta curiosidade, no processo judicial, a presença de uma mulher como ré, Sara Ribeiro Martins. O papel dela seria recrutar mulheres para formar uma célula do Estado Islâmico no Brasil. Em depoimento quando foi alvo de condução coercitiva ainda em 2016, a denunciada confirmou que se considerava simpatizante do grupo Estado Islâmico, além de fazer parte de um grupo que planejava a execução de atos terroristas.
Na denúncia, o procurador da República Rafael Miron diz que é claro que todos os denunciados "de forma voluntária e consciente da ilicitude da conduta promoveram a organização terrorista Estado Islâmico por meio de publicações de comentários, imagens e vídeos, links de sites de notícias do grupo extremista e conversas e atos em aplicativos e redes sociais _ em ambientes públicos e privados". Em alguns casos, cogitaram realizar atentados.
"Em inúmeras ocasiões, os denunciados demonstraram devoção à organização terrorista afirmando, inclusive, intenção de ação terrorista no decorrer dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Nas redes sociais, ainda foram verificadas diversas postagens de apoio e exaltação ao grupo extremista, de incentivo à violência, bem como de cooptação de simpatizantes dos ideais extremistas do Estado Islâmico", diz trecho da denúncia do MPF.
Os denunciados estão sujeitos a penas que variam de quatro a 20 anos de prisão.