Uma reportagem da revista Época desta semana mostra, com exclusividade, documentos inéditos de delatores da JBS. Segundo a publicação, a empresa tem planilhas, comprovantes e notas de propina de quase dez anos de campanhas, que vão da eleição municipal de 2006 à eleição presidencial de 2014. De 2006 a 2017, a contabilidade da propina da JBS – e outras empresas dos irmãos Batista – a políticos foi de mais de R$ 1 bilhão.
De acordo com a reportagem, R$ 21,7 milhões teriam sido distribuídos a pedido do presidente Michel Temer pela empresa a políticos aliados e amigos. A matéria afirma que há provas consistentes sobre pagamentos fraudulentos a empresas indicadas por Temer à JBS, na campanha presidencial de 2010; e de pagamentos igualmente fraudulentos a empresas indicadas por José Serra também nesta campanha. Há também evidências de extratos das duas contas mantidas por Joesley nos Estados Unidos com saldo de propina no BNDES, por combinação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. São contas cujo saldo, cerca de US$ 150 milhões, teria servido para financiar a campanha de Dilma em 2014 – e também dos partidos aliados.
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Além disso, há casos inéditos, como US$ 1 milhão que teriam sido pagos ao ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff, Antonio Palocci, em 2010, por meio de uma conta nos Estados Unidos. A revista também relata pagamentos de R$ 318 mil em dinheiro vivo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, entre outros parlamentares. E a ministros do governo Temer, como Bruno Araújo, Gilberto Kassab, Helder Barbalho e Marcos Pereira. Kassab, por exemplo, também aparece como beneficiário de um valor extraordinário em propinas, recebidas, segundo os documentos, até o ano passado: R$ 18 milhões.
Em nota, o presidente Michel Temer disse que "jamais ordenou ao meliante Joesley Batista qualquer pagamento a quem quer que seja. Nem o fez a nenhum de seus capangas. Exemplo claro de mentira é que o presidente não cuidou da arrecadação de campanha de Gabriel Chalita em 2012. Já em relação ao candidato a governador pelo PMDB em São Paulo, Paulo Skaf, é preciso lembrar que ele nem sequer apoiou a candidatura a vice-presidente de Michel Temer em 2014. Não faria sentido, portanto, buscar recursos para quem não retribuiria politicamente. Só um inventor de histórias da carochinha faria tal construção."
Eunício Oliveira afirmou que as informações dos delatores são inverídicas. Helder Barbalho disse que a doação que recebeu "era prevista em legislação vigente". Kassab afirmou que a empresa de sua família presta serviços para a JBS "há anos" e que já enviou esclarecimentos à Receita Federal.
A defesa de Marcos Pereira diz que está "à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e afastar dúvidas" sobre sua conduta.