Em sua primeira manifestação após a soltura do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez na manhã deste sábado (1º) uma contundente defesa da denúncia no caso da mala dos R$ 500 mil, que também envolve o presidente Michel Temer.
Para ele, a "narrativa tem uma clareza tão grande" que justifica a medida do Ministério Público Federal (MPF) – de ter pedido a prisão do ex-deputado. Janot lembrou que o presidente recebeu o executivo da JBS Joesley Batista num encontro às escondidas no Palácio do Jaburu e o orientou a "resolver tudo" com Rocha Loures, segundo gravação da conversa. Dias depois, o ex-assessor de Temer receberia a quantia em uma pizzaria em São Paulo, numa ação acompanhada pela Polícia Federal.
– A mala diz tudo – afirmou o procurador-geral durante o 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que termina neste sábado em São Paulo.
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Janot adotou uma postura cautelosa ao comentar a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Facchin, que liberou Rocha Loures da prisão. O ex-assessor de Temer estava preso desde 3 de junho.
– Posso não concordar, mas faz parte – disse.
O procurador-geral ainda se defendeu das críticas de que teria sido brando ao aceitar um acordo de delação premiado com os irmãos Batista sem prever pena pelos crimes confessados.
– Se eu não tivesse aceitado essas condições, não haveria acordo. Eu faria tudo de novo. Com o acordo, ganhou a sociedade brasileira com a cessão da prática criminosa – falou.
Bem-humorado, o procurador também respondeu sobre comparações com sua sucessora, Raquel Dodge. Mediadora do encontro, a jornalista Renata Lo Prete lembrou declaração da subprocuradora, que defende que só a Justiça pode reduzir pena em delações premiadas.
– Se eu não puder reduzir pena, vou oferecer o que para o colaborador? Vou pedir para ele: "Senta aqui! Na minha terra, a gente gosta de torresmo. Quer um torresmo?" – brincou o mineiro.
Janot assegurou que não há risco de a Lava-Jato "pisar no freio" com a nova gestão na Procuradoria-Geral da República, a partir de setembro, porque isso exigiria um complô com o envolvimento de outros setores, como o Judiciário, a Polícia Federal e a Receita Federal. Mas admite temor com iniciativas do Congresso para limitar a atuação do Ministério Público Federal.
Precavido, o procurador evitou dar prazos sobre a apresentação de novas denúncias contra Temer, investigado ainda por obstrução de Justiça e organização criminosa. Mas disse que os brasileiros podem esperar o mesmo ritmo de trabalho até seu último dia à frente da PGR.
– Enquanto houver bambu, haverá flechas – garantiu.
Assista à toda a participação de Janot no congresso: