Extorsão a empresários. Esse é o principal motivo da prisão de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras no governo Dilma Rousseff, ocorrida nesta quinta-feira (27), em Sorocaba (SP). A detenção foi determinada pela Operação Lava-Jato.
Foi um depoimento do ex-presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a peça decisiva para decretar a prisão de Bendine. Conforme relato do empreiteiro - que se encontra preso há dois anos em Curitiba, pela Lava-Jato – a empresa foi procurada por um representante de Bendine, o lobista André Gustavo Vieira da Silva. Ele ofereceu alongamento da dívida da Odebrecht Agroindustrial com o Banco do Brasil, em troca de um "pedágio", a ser pago a Bendine. Inicialmente, disse Odebrecht, Vieira da Silva falava em percentuais na ordem de 2% a 3% do valor devido, o que daria algo entre R$ 58 e R$ 87 milhões. Depois o valor do "pedágio" foi reduzido a um montante fixo de R$ 17 milhões. Por fim, só foram pagos R$ 3 milhões – até porque Marcelo Odebrecht foi preso e os subornos cessaram.
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Nos primeiros contatos a empreiteira se recusou a pagar. Mas aí, em fevereiro de 2015, Bendine foi nomeado presidente da Petrobras. Conforme Marcelo Odebrecht, a essa altura a coisa mudou de figura.
"Quer dizer, o cara é nomeado pela presidente, recém-eleito presidente na Petrobras, a gente cheio de problemas na Petrobras, Lava Jato, muda de figura! Vamos fazer o seguinte, administra com o André o pagamento, a gente vai administrando, eu não acho que a gente vai pagar 17 milhões, mas vamos administrando", disse Odebrecht, em depoimento prestado ano passado ao Ministério Público Federal (MPF).
Odebrecht falou que o executivo da empreiteira Fernando Reis acertou todos os pagamentos com o lobista André, em um total de R$ 3 milhões.
"Obviamente a gente estava cedendo ao achaque, não por conta da Odebrecht Agroindustrial...Não tinha, a essa altura, mais nada a ver com a dívida. A dívida era a razão do que ele trouxe o assunto. A essa altura, a gente estava cedendo ao achaque por que ele estava na posição de presidente da Petrobras", ressaltou Odebrecht.
O pagamento teria sido feito por três entregas de R$ 1 milhão, em espécie, em 17 e 24 de junho de2015 e 1 de julho do mesmo ano, num apartamento no bairro Paraíso, em São Paulo. Tudo operacionalizado pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht (setor de propinas), que usou o codinome "Cobra" ao se referir a Aldemir Bendine.
Na busca e apreensão autorizada pelo juiz Sérgio Moro (da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná) no endereço de Maria Lúcia Guimarães Tavares, secretária do Setor de Operações Estruturadas, foram encontrados registros escritos dos pagamentos mencionados por Odebrecht. Eles mencionam o endereço referido para o codinome "Cobra", o que é considerado prova material pelo MPF.