Ao viajar a Tietê (SP) em um helicóptero particular em 2014, o então vice-presidente Michel Temer estava acompanhado do amigo José Yunes e de um assessor, além de dois seguranças. Os cinco embarcaram em São Paulo no Bell PR-VDN pertencente à Juquis Agropecuária Ltda. Conforme revelado em reportagem de Zero Hora publicada na terça-feira (13), a Juquis tem como sócio administrador Vanderlei de Natale, que também é dono da Construbase, empreiteira investigada na Lava-Jato. Procurado, o Palácio do Planalto disse inicialmente que Temer viajou em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB). Após a publicação da reportagem, no entanto, o Planalto corrigiu a informação e reconheceu que a viagem foi feita no helicóptero de um "amigo" do presidente.
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Temer foi à cidade participar da comemoração dos 172 anos de munícipio, onde nasceu em 23 de setembro de 1940. A prefeitura organizou um evento com apresentação de uma orquestra sinfônica e recebeu seu mais ilustre político com homenagens. Sempre que há espaço na agenda, Temer procura visitar Tietê na primeira semana de março, época em que é festejada a emancipação da cidade.
Quando chega de helicóptero, assessores exigem que ele não seja fotografado próximo ao aparelho. Por vezes, o presidente percorre de carro os 140 quilômetros desde São Paulo. Numa ocasião, dirigiu ele próprio a caminhonete Cherokee da família.
No ano passado, Temer esteve duas vezes em Tietê, em janeiro e março. Antes da primeira visita, telefonou no fim da manhã para o então prefeito Manoel David (PSD), perguntando se poderia visitá-lo. Uma hora e meia depois, chegou para o almoço e se reuniu com aliados no salão nobre da prefeitura, hábito construído nos seis mandatos de deputado, quando políticos da região formavam fila para despachar com ele no gabinete do prefeito.
– Os eventuais inimigos que tenho em Brasília que se acautelem, pois com a força que eu levo aqui de Tietê ninguém nos derruba – discursou.
Em 2006, última vez que concorreu a deputado federal, teve 3.627 votos entre os mais de 20 mil eleitores que foram às urnas no município. Como vice de Dilma, perdeu nos dois turnos de 2010 e 2014. Nesta última disputa, a propaganda distribuída na cidade escondia que Dilma era a cabeça de chapa. Os panfletos não exibiam uma única foto da candidata, enquanto Temer aparecia em 11 imagens. Com seis páginas e enumerando investimentos federais na cidade, o panfleto trazia ainda o 13 do PT grafado na cor azul, e não no tradicional vermelho do partido.
Ano passado, Temer apoiou a reeleição de Manoel David à prefeitura. Em anúncios nos jornais locais, o candidato se orgulhava da confiança presidencial: "Tietê tem um presidente da República, filho da terra, e o único candidato que pode aproveitar isso em benefício de Tietê é Manoel David", assinalava o texto, com fotos do prefeito ao lado de Temer. Não deu certo e David perdeu a eleição. Pesou contra o prefeito a escassez de investimentos da União na cidade. A obra de uma ponte pênsil sobre o Rio Tietê, orçada em R$ 4,4 milhões pelo governo federal e apresentada em outdoors como a maior passarela em madeira do hemisfério sul, está abandonada há mais de um ano.