O casal de marqueteiros Mônica Moura e João Santana revela em delação que malas recheadas com dólares teriam ajudado a eleger presidentes na América Latina e na África.
COMO SERIAM AS ATIVIDADES INTERNACIONAIS
Diplomacia do dinheiro na Venezuela
João Santana revela que o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximiliano Arvelarz, teria sido o principal articulador e fiador da campanha de Hugo Chávez à reeleição presidencial venezuelana em 2012. Ele tinha, de acordo com o marqueteiro, excelente trânsito entre dirigentes de grandes empresas brasileiras com negócios em território venezuelano, como as empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht – além de relações próximas com a cúpula do PT, no Brasil. Ele e a mulher, Mônica Moura, teriam replicado a prática de pagamentos "por fora", via caixa 2.
– O embaixador Maximiliano demonstrava intimidade com a Andrade Gutierrez que, inclusive, disponibilizava jatinhos para viagens. Em pelo menos três voos, viajamos juntos. Nicolás Maduro (então chanceler e, hoje, presidente venezuelano) recebia Mônica em seu próprio gabinete, entregava-lhe pastas com dinheiro e providenciava escolta para lhe dar segurança no percurso da chancelaria à produtora – descreve Santana.
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O marqueteiro diz que a Odebrecht arcou com cerca de US$ 7 milhões, valor referente ao trabalho executado pela Polis Caribe (empresa dos marqueteiros), e a Andrade Gutierrez pagou US$ 2 milhões, por meio de depósito na Suíça, na conta da Shellbill (offshore em paraíso fiscal). Em Caracas, Mônica teria recebido em espécie na própria sede da chancelaria US$ 11 milhões. Restou dívida de US$ 15 milhões, nunca saldada.
Santana e Mônica apresentaram, como provas, extratos da conta Shellbill, contratos firmados com venezuelanos, registro de passagens aéreas e agendas pessoais com datas de encontros.
Contrato de gaveta em Angola
Mônica e Santana teriam sido contratados para fazer a campanha de José Eduardo dos Santos à reeleição como presidente de Angola. Teriam havido reuniões em Salvador e no Rio de Janeiro com alguns dos principais dirigentes do MPLA, partido governamental angolano.
A negociação dos valores aconteceu entre Mônica e o então secretário da Comunicação angolano Rui Falcão (homônimo do presidente nacional do PT brasileiro). O valor total da campanha teria sido de US$ 50 milhões. Teria ficado acertado que a empreiteira Odebrecht pagaria parte do valor. Ernesto Bayard, executivo da Odebrecht em Angola, teria realizado um contrato entre a Polis e o MPLA no valor de US$ 30 milhões. E um "contrato de gaveta" (oculto) de mais
No Panamá, a pedido de Emílio Odebrecht
A campanha publicitária de José Domingo Arias à presidência do Panamá foi articulada a pedido de Lula e Emílio Odebrecht (patriarca da construtora) e João Santana diz ter sido convocado para organizá-la. O marqueteiro afirma que não queria fazer a campanha, mas atendeu a um pedido pessoal de Emílio. O governo panamenho teria pago US$ 21 milhões a Mônica Moura, "em valores por fora, através de pagamentos que foram feitos pela Odebrecht". Os detalhes teriam sido organizados por André Rabello, executivo da Odebrecht no Panamá. Dos US$ 21 milhões, US$ 4,5 milhões teriam sido pagos pelo partido e por agências de propaganda que atendiam ao governo, cobrindo trabalhos de publicidade.
El Salvador e as malas de dólares de Palocci
A campanha presidencial de um partido de esquerda em El Salvador (país centro-americano) foi considerada importante por Lula, descreve João Santana. Ficou acertado que a Polis organizaria a publicidade do esquerdista Maurício Nunes. Teriam sido três meses de trabalho. O pagamento teria sido acertado, em 2009, pelo então deputado federal Antonio Palocci. Mônica diz que recebeu US$ 2 milhões em espécie, no Brasil, entregues por Juscelino Dourado, que trabalhava com Palocci – o valor teria sido entregue em malas.
Contrapontos
O que Antonio Palocci
O ex-ministro não se manifestou sobre o caso.
O que dizem Odebrecht e Andrade Gutierrez
As empreiteiras não se manifestaram sobre o caso.