Ex-líder do PT no Senado no governo Dilma Rousseff, até ser preso em dezembro de 2016 ao tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o delator Delcídio Amaral (MS) afirmou nesta segunda-feira (22) ao juiz federal Sergio Moro que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e o empresário Marcelo Bahia Odebrecht estruturaram a criação do Instituto Lula, aberto em 2011, após o petista deixar a Presidência.
– Ele (Bumlai) falou para mim que ele tinha procurado o Marcelo para ajudar na implementação do Instituto (Lula) – declarou Delcídio, ouvido por Moro como testemunha de acusação no segundo processo aberto contra Lula, na Lava-Jato, em Curitiba.
Leia mais
MPF oferece denúncia contra Lula em ação sobre sítio em Atibaia
Advogados de políticos se unem contra a Lava-Jato: "mexeu com um, mexeu com todos"
Lula diz que Temer tem que "sair logo" e defende eleições diretas
– Ele estava atuando para essa estruturação a pedido de quem? – questionou a procuradora da República Isabel Groba, da força-tarefa da Lava-Jato.
– Do próprio presidente. Ele foi chamado para organizar isso – respondeu o ex-senador.
Delator da Lava-Jato, Delcídio detalhou como Bumlai conheceu Lula, em 2002, apresentado pelo ex-governador do Mato Grosso do Sul Zeca do PT.
– Era um conselheiro da família, uma pessoa que estava lá à disposição para resolver os problemas do dia a dia do ex-presidente e da família também – afirmou.
A força-tarefa acusa Lula de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia da Procuradoria da República aponta que propinas pagas pela Odebrecht, no esquema de desvios na Petrobras, que seria liderado pelo ex-presidente, chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal e incluíram terreno de R$ 12,5 milhões para o Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo de R$ 504 mil.
– A primeira vez que fiquei sabendo do Instituto Lula foi através desse diálogo que eu tive com José Carlos Bumlai, quando ele me falou que estava trabalhando na estruturação do instituto – afirmou Delcídio a Moro, confirmando o que registrou em sua delação.
Nela, o ex-petista detalhou que no final do governo Lula, em 2010, ele ouviu do pecuarista que ele precisava "estruturar" o instituto para que o "ex-presidente tivesse um local para se estabelecer após o final de seu mandato".
O delator contou que Bumlai citou a procura de um terreno e a participação da Odebrecht na "estruturação" da criação do Instituto Lula.
Palocci
Neste processo em que Lula é réu, o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/governo Lula e Casa Civil/governo Dilma) é apontado como principal interlocutor com a Odebrecht. O petista seria o Italiano que aparece nas planilhas secretas da empreiteira e que Amigo era o ex-presidente.
– Tenho certeza que o ministro Palocci era pessoa muito influente nessa área de arrecadação – afirmou Delcídio.
O ex-ministro também é réu no caso e foi citado pela delator como o principal arrecadador do PT, de valores legais e de caixa 2.
Confissão
No dia 12 de abril, o empresário Marcelo Bahia Odebrecht, também réu nesse processo, confessou a Moro ter comprado o terreno para atender interesses de Lula, após pedido de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula (IL) e também réu do caso, e o pecuarista José Carlos Bumlai – amigo do ex-presidente.
– O prédio IL foi aquele pedido que eu comentei com o sr. Em meados de 2010, o Paulo Okamotto ou o Bumlai, um dos dois, fez o primeiro "approach". Mas depois eu conversei com os dois. Veio dizer que o Bumlai e Roberto Teixeira tinham fechado um terreno que queriam que fosse a futura sede do Instituto Lula – contou Odebrecht.
*Estadão Conteúdo